À conversa com João Peixeiro

Com fortes ligações familiares às gentes do mar, o nosso convidado de hoje acaba por descobrir a Pesca Submarina quase inevitavelmente. O seu ingresso no circuito competitivo surge mais tarde no seguimento de um convite que lhe foi endereçado e foi esse circuito que lhe proporcionou diversas alegrias e onde viu as suas prestações traduzirem-se na oportunidade de pescar com a Selecção Nacional, em diversos países e oceanos onde viveu momentos únicos e memoráveis que agora recorda aqui no PortugalSub.

Competitivo e feroz defensor da modalidade, o convidado de hoje com quem o PortugalSub esteve “À conversa com” é o João Peixeiro, 33 anos de idade, actualmente 4º posto do ranking nacional, foi campeão nacional de Pesca Submarina no ano de 2012, vice-campeão mundial por equipas no XXIX Campeonato do Mundo de Pesca Submarina de 2014 e é actualmente atleta da CRESSI Team.

Como e quando começou a história do João Peixeiro na Pesca Submarina?

O meu pai é pescador profissional e sempre vivi ligado ao mar. Desde muito cedo que comecei a ter contacto com o peixe e logo me interessei em explorar o fundo marinho. Comecei por ir à maré com a minha família, depois a pesca apeada e embarcada e no verão não passava sem levar a máscara e o tubo quando ia para junto do mar. Penso ter começado a explorar o fundo e os animais marinhos com alguma autonomia a partir dos 12 anos. Até aos 18 anos as pescarias eram predominantemente polvos, chocos e algum peixe de tamanho mediano. Com a adolescência comecei a explorar zonas mais desabrigadas, mas apenas com mar tipo piscina, pois sentia muito a falta de experiência. Fui evoluindo e começaram a surgir os bodiões e sargos de bom porte, algum robalote e os safios. A pouco e pouco conseguia algumas idas de barco com pescadores mais experientes e aproveitava ao máximo para ir observando e aprendendo. Em 2005 consegui concretizar o meu sonho de criança, comprar um semi-rígido! Com a autonomia que consegui as idas tornaram-se mais regulares e as capturas começaram a ser mais diversas e com exemplares maiores, aumentando cada vez mais a motivação.

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Qual, quando, e como decorreu a sua primeira prova oficial na modalidade?

A minha estreia foi em 2011 no Regional em Cascais. Lembro-me de estar super nervoso, entrar na água e durante a primeira meia hora não conseguia fazer uma apneia de mais de 20 segundos. Fiz a quota das taínhas em menos de 3h e depois não consegui apanhar mais nada. Fiz 4º na jornada, mas a minha inexperiência era evidente e não consegui pensar numa estratégia para apanhar outros peixes. No segundo dia não tive concentrado e caí para 6º da geral. Acabei por ser repescado para o Nacional de Promoção na Póvoa de Varzim.

O que seduziu o João para enveredar pela Pesca Submarina de competição?

Não me lembro de pensar em algo que me fizesse querer competir e apesar de ser uma pessoa muito competitiva, nunca achei que estaria à altura de participar nas provas, pois para mim o meu nível estava muito longe do mínimo necessário. Fui convidado a integrar a equipa do G.D.C. Administração do Porto de Sines e aceitei o desafio para tentar perceber ao certo qual era o meu nível. Não tinha a mínima noção, tanto que nem competi no primeiro ano, pois não sabia que necessitava de curso de apneia.
Olhando para trás foi esta decisão que mais contribuiu para a minha evolução como pescador submarino.

João Peixeiro - Campeão Nacional de Elite 2012

À medida que o João foi crescendo na modalidade, calculamos que à semelhança de todos os jovens, teve os seus ídolos, quais foram eles? Teve a oportunidade de se cruzar com algum deles? Se sim, como foi esse encontro?

Como qualquer pessoa que tem um hobbie existem sempre os ídolos correspondentes e no meu caso não foi diferente, lembro-me de ter grande admiração pelos grandes pescadores submarinos da região, quer por ver as suas capturas, quer por ver os resultados da competição em revistas ou simplesmente por ouvir as histórias. A nível internacional o nome que mais me lembro era o Carbonell. Nunca sabemos como vai ser o futuro e jamais pensei alguma ver poder estar entre os melhores do mundo em competições. Tive oportunidade de cumprimentar grandes campeões internacionais, entre eles Alberto March, Pedro Carbonell, Pepe Amengual, Santi Lopez Cid, Daniel Gospic, Xavi Blanco, Samuel Tomas, sem contar com os Tugas. Destes encontros o que mais destaco foi o facto de ter a ideia que o Carbonell era um pescador de estatura alta e o March de média (são mas ao contrário) e a simpatia/simplicidade do Gospic e do Samuel Tomas.

O João já participou em diversas competições nacionais e internacionais, pelo que gostaríamos de questionar que títulos destacaria da sua carreira de competição e porquê?

Apesar de fazer competição apenas à 5 anos, já tenho muito que posso destacar da minha carreira de competição e para mim o momento mais importante foi sem dúvida o campeonato de elite em 2013, após ter sido campeão nacional em que havia que provar que o que sucedera no ano anterior não tinha sido um mero acaso. Nunca tinha saído muito da zona de Sines, o que me deixava em clara desvantagem para os outros que disputariam o campeonato, juntando a pouca disponibilidade para preparar as provas havia uma grande probabilidade das coisas correrem mal. Felizmente o resultado das 4 jornadas confirmaram uma boa maturidade para a competição.

Qual foi o ponto alto da sua carreira de competição, que considera ter atingido, até aos dias de hoje?

Sem dúvida que o ponto mais alto da minha carreira em competição foi em 2014 no mundial do Perú.

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Qual foi a chave para ganhar os títulos que arrecadou até hoje?

Para mim a chave para o sucesso é a disciplina, a atitude e a garra. Sem dúvida que se conseguirmos conjugar este 3 pontos temos tudo para ganhar títulos, mas na pesca submarina tudo depende muito das decisões/opções/estratégia em prova, por isso é preciso conseguir pensar muito bem, improvisar se necessário e ainda assim manter a calma e a concentração.

Gostaríamos que nos desvendasse um pouco da preparação que o João realiza antes de uma prova importante?

Além da parte física, quando preparo uma prova levo muita coisa em conta e o mais importante é ser objectivo e eficiente. Em primeiro lugar tenho de saber qual a disponibilidade que terei para a preparação e depois focar-me naquilo que vou poder fazer. Começo por fazer o trabalho de casa e utilizo o google earth para ver a costa, analisar o tipo de pedra e tentar perceber onde vou poder procurar este ou aquele peixe, procuro artigos de provas anteriores na mesma zona e analiso, vejo a carta de fundos da sonda para perceber se tem baixas, onde são as zonas de areia, baías, etc. Tudo isto é passado para o papel e quando vou para a zona de prova preparar ou mesmo fazer logo a prova consigo ser objectivo e ter mais probabilidade de achar peixe.
Todo o material é checkado com atenção e em especial as armas (fio, arpão, elásticos).
A alimentação e hidratação é outro ponto que tenho sempre muita atenção, pois vão ser pelo menos 5 horas de prova nas quais sou sempre muito competitivo e que resulta num grande desgaste físico e psicológico.

O João, adicionalmente à Pesca Submarina, pratica outros desportos regularmente? Se sim, quais?

Sou uma pessoa fisicamente muito activa e divido a paixão da pesca submarina com as bicicletas. Pratico regularmente BTT e ciclismo, fazendo competições. Também pratico natação em especial antes das provas, dou as minhas corridinhas e faço fortalecimento muscular do tronco.

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Esses desportos complementam, de alguma forma, a prática da Pesca Submarina?

Procuro juntar o útil ao agradável e o importante é desfrutar. A corrida é sem dúvida o que noto que me dá mais força dentro de água, mas como adoro pedalar acabo por correr muito pouco. Pedalar também me ajuda muito quando vou caçar, mas tenho de moderar bem se não acontece o inverso. O fortalecimento do tronco ajuda imenso, em especial quando carrego de peso para ir à borda. A natação é a melhor de todas, pois da-me muita aquacidade.

O João faz parte da equipa da Cressi em Portugal. Como surgiu esta oportunidade e como este tipo de parcerias podem ajudar um atleta de competição?

Em 2012 quando fui campeão, decidi aproveitar o título para procurar um patrocinador. Após muitas tentativas com respostas negativas e outras sem resposta, surgiu uma porta que não estava completamente fechada e em conjunto com a Cressi Portugal consegui o apoio/patrocínio da Cressi Itália.
Ser um atleta patrocinado permite-nos estar sempre bem equipados e isso faz a diferença na água. Permite-me ter mais disponibilidade de verba para a preparação das provas, mas a mais importante é a motivação que me traz, pois representar uma marca é motivo de orgulho e quero fazer sempre melhor e dar visibilidade à marca.
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Com que frequência pratica a Pesca Submarina no seu dia a dia?

Dependendo da disponibilidade, época do ano e das condições do mar, tento sempre fazer uma média de 2 dias por semana, mas posso estar 2/3 semanas sem ir à água e é raro fazer água 3 vezes por semana.

O que podemos esperar do João Peixeiro, futuramente, na pesca Submarina de competição?

Não posso responder com exactidão a essa pergunta, mas gostaria de me manter a competir durante uns bons anos. No entanto a conjuntura actual, a vida pessoal e profissional não convidam muito a “estas andanças”, tenho a motivação do patrocínio e sinto uma responsabilidade enorme perante a modalidade e quero ajudá-la a manter-se e a crescer.

O João, devido à sua participação em provas internacionais, já teve oportunidade de pescar em diferentes países, continentes e oceanos, pelo que gostaríamos que nos enumerasse alguns dos sítios que mais gostou de pescar, porquê, e os comparasse um pouco com a nossa costa.

A minha aventura fora de portas começou em Vigo em 2012 e não foi nada fácil a adaptação, pois é um fundo muito parecido com o norte do nosso país e na altura estava completamente forrado de laminária, em que os peixes aparecem e desaparecem dentro da alga, depois o fundo todo a mexer, bastava um pouco de força de fundo e era enjoo certo!
Seguiu-se Palma de Maiorca e a expectativa era de aguas muito limpas e muito peixe e muitos meros………..grande desilusão!! o peixe era muito escasso, pequeno, os meros tinham emigrado, as visibilidades foram entre 1-10m e água gelada. A maior dificuldade foi conseguir começar a olhar para um peixe de 300g, perceber que podia pontuar e tentar fazer a captura e muitas vezes andávamos a “pastar” no meio de campos gigantes de posidónia. Por incrível que pareça após a 2ª ida fiquei com vontade de lá voltar.
Perú 2014, não se conseguiu saber bem ao certo como eram as condições, mas a expectativa era de aguas de boa visibilidade e muito, muito peixe. O investimento foi grande a todos os níveis e fomos com o intuito de tentar discutir a prova. Deparamo-nos com um país de realidades muito diferentes do nosso, sentimos medo ao início e dentro de água as coisas não eram melhores, agua muito suja e gelada, muita força de fundo e pouco peixe e de comportamento muito diferente e difícil. Era intimidante andar dentro de água com os lobos marinhos mesmo ali ao nosso lado.
Em Cádiz no ano passado os fundos eram muito parecidos com o sul do Algarve, mas as aguas eram muito sujas, havia peixe, mas as condições mudavam bastante e tornava-se difícil fazer reconhecimento. Fica uma vontade enorme de voltar e tentar apanhar condições boas.
A essência da pesca submarina é a dificuldade da captura de um peixe, quer seja pela dificuldade de criar oportunidade de tiro, quer seja um tiro fácil, mas que leva o material ao limite, por isso em todos os locais onde já pesquei fico sempre com a vontade de lá voltar, pois evoluímos sempre mais um pouco e ficamos com a sensação que conseguimos fazer melhor.

Nas águas nacionais, qual a zona preferencial do João para pescar e porquê?

A maior parte das vezes que pesco fora de Sines é em competição e de todas as zona que já tive oportunidade de pescar elejo a Nazaré como aquela que mais gosto. Conhecendo muito pouco dos fundos da Nazaré, nas duas provas do nacional que já lá fiz agradou-me bastante a diversidade dos fundos com muitas zonas boas de pedra para pescar e a relativa facilidade com que se encontra sargos grandes, bodiões e robalos. É sempre em grande expectativa que me desloco para uma prova na Nazaré. 

Qual é a técnica de pesca que o João se sente mais confortável a executar?

Embora durante um dia de caça possa pescar à espera, na caída, ao buraco, na espuma ou à índio, estas duas últimas são as que mais utilizo e a última a que mais prazer me dá e a que me sinto mais confortável.

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Qual a profundidade máxima que já pescou e qual a que se sente mais confortável a pescar?

Nunca pesquei a mais de 25m, sendo muito raro ultrapassar os 20m, mas as cotas onde me sinto mais confortável é a zona entre os 0-10m.

Gostaríamos que nos contasse um pouco da história do maior susto que o João já viveu a praticar a modalidade e o que poderia ter feito para o evitar?

O maior susto que tive até hoje foi bem recente, foi num dia em que o mar estava com periodo de 18-20s, embora não tivesse mais de 2m de previsão. Estava de sequeiro à umas duas semanas, estava de folga e com uma vontade enorme de ir para a água, fui ver o mar e apesar de ter uma força de fundo gigante achei que dava para fazer uns mergulhos. Fui até casa buscar o equipamento e aí vai ele para uma barbatanada na costa do norte na zona da Aguião. Aproveitei o descanso de mar para entrar e logo me apercebi da força bruta de fundo, mas fui caçando que nem um folha de papel no Outono. Fui ganhando confiança e comecei-me a aproximar da espuma, até que fico a caçar numa zona onde se cruzavam duas ondas e não tinha rebentação, apenas a força de fundo. Aproveitava o espaço entre sets para caçar e estava descansado, até que a enchente da maré me tirou o “abrigo” e de repente entrou um set gigante que não parecia querer acabar, onde a onda quebrava a cerca de 10m de mim e depois vinha com mais de 2m de espuma e eu estava a ser arrastado para cima das pedras, vieram mais de 7 ondas enormes em que eu tinha de mergulhar para me escapar e quando chegava à superfície estava cada vez mais perto das pedras e mal tinha tempo para ventilar e mergulhar outra vez. Lembro-me de pensar, “então mas isto não acaba!!??vou-me lixar…..” logo dava à barbatana com toda a minha força para tentar sair, mas apercebi-me que tinha que me controlar se me queria safar!! talvez tenham sido ali uns 2 min que mais pareceram uma meia hora, até que veio uma onda mais pequena e consegui sair da rebentação!! abrandei um pouco já livre da rebentação e aí descansei um pouco de barriga para o ar, nem sentia as pernas………Ainda tentei caçar mais um pouco, mas acabei por sair passado pouco tempo, estava estoirado!!!
Não devia ter ignorado o período do mar, pois mares com períodos grandes são sempre muito falsos e as coisas mudam de um instante para o outro. De certeza que me vou lembrar sempre que estiver a caçar com mares idênticos.

Qual é a espécie de peixe preferida do João para capturar e porquê?

A espécie que mais gosto de capturar é sem dúvida o robalo, adoro tentar-lhes despertar a curiosidade e fazer com que venham ver o que sou. Isso aliado à dificuldade de tiro que maior parte das vezes criam, por serem super rápidos ou por ter de fazer tiro com as duas mãos por não aguentar a arma só com uma, devido à zona onde andam.

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Conte-nos um pouco da história da sua maior captura até aos dias de hoje.

A maior captura até hoje foi uma corvina com cerca de 36kgs. Era um peixe que apenas sonhava poder apanhar e nunca tinha visto nenhuma até cerca de um mês antes da captura desta.
Foi num dia em que não me apetecia nada ir ao mar, mas o Miguel Santos lá me convenceu. Fui abordado pela PM ainda em seco, sem estar equipado e a coisa não tinha corrido muito bem, mais parecia ter sido um dia em que devia ter ficado em casa. 
Fomos para a água e cacei cerca de 30 min até ao derradeiro mergulho, a água estava muito suja, cerca de 1.5m de visibilidade no fundo e talvez 3m de visibilidade mais acima. Estava a caçar de 75 a cair no fundo e a ficar a olhar em contra-luz para ver se passava algum robalo por cima. Começo a ver uma mancha escura a aproximar-se até que me apercebo que era uma corvina enorme, fico incrédulo e nem tenho reacção para fazer tiro, tal era a imponência do animal perante a minha 75………ela curva mesmo por cima de mim, como quem não me viu e eu arranco atrás dela, vou tão perto dela que me lembro de quase me dar com a caudal. A corvina sente-me e vira e nesse momento de maneira inconsciente faço o tiro, foi um reflexo do meu cérebro do qual não me lembro ter controlo, pois não ía a pensar fazer tiro. Abro o carreto e venho para cima que nem uma bala a gritar por ajuda!!! o Miguel chega ao pé de mim como se tivesse feito os 100m à velocidade do Usain Bolt e o fio está passado numa pedra e a corvina a correr com o carreto já quase vazio. Conseguimos tirar o fio da pedra e “passeamos o canito” durante uns minutos até nos aproximar-mos do peixe, mas sem o ver devido à visibilidade reduzida. Apercebemos-nos que estamos por cima da corvina, mas ninguém tem folgo (ela não parava) para fazer um mergulho para dobrar o tiro, até que sem pensar mais faço o mergulho e faço um tiro no “apagador”. Festa enorme e nem acreditávamos no que tínhamos apanhado, sem qualquer noção, estimava-mos em 50-60kgs………
Já não consegui caçar mais, enquanto o Miguel não parava e não conseguia fazer tiro a nada na expectativa de haver mais.

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Conte-nos um pouco da história da captura que mais prazer lhe deu capturar, até aos dias de hoje.

Olhando para trás, a captura que mais prazer me deu foi no mundial do Perú. Era o primeiro dia de prova e não tinha conseguido começar a pescar na zona onde tinha planeado, as coisas não estavam a correr bem e com cerca de 2h passadas apenas tinha 3/4 peixes capturados e todos eles duvidosos, decidi ir ver uns buracos marcados, apesar de estarem muitos atletas na zona, vou ver o primeiro e vejo peixe, mas estava muito alerta e não consigo fazer tiro devido às más visibilidades. Cada vez mais frustrado por não conseguir capturas, vou ao segundo buraco, levo um bocado a identificar a pedra e quando consigo espreitar vejo que tem peixe, mas está muito escuro e não consigo ver para fazer tiro. Acendo a lanterna, vejo imenso peixe e faço um tiro rápido………uma dupla, os dois com peso garantido!!!! numa prova tão difícil onde as capturas eram muito poucas, foi uma enorme alegria e aliviar de pressão que me deu motivação para o que restava de prova.

Como vê o João o panorama actual e futuro da Pesca Submarina em Portugal?

Infelizmente acho que a prática da modalidade está a decrescer e não vejo as gerações mais novas muito interessadas. Outra das coisas que me entristece é o facto de ainda haver muitas pessoas que julgam que pescamos com o auxílio de garrafas de ar comprimido e pensarem que dizimamos tudo, quando é precisamente o contrário. Sinto que todos nós, praticantes de pesca submarina temos de fazer um  esforço para que a modalidade continue a ser praticada em modo de lazer e em competição. Temos um palmarés invejável e não somos tratados com o mínimo de consideração/respeito e temos de mudar isso.

Na opinião do João, temos bons pescadores submarinos em Portugal em bom número?

Sim, na minha opinião temos muito bons pescadores submarinos, ao nível dos melhores do mundo, mas sem condições para mostrar todo o seu valor. Não falando na competição, acho que temos muitos pescadores com muita qualidade capazes de vingar na competição, mas sinto que estes não têm essa noção ou não se preocupam. A pesca submarina de competição requer uma grande adaptação em relação à pesca do dia a dia e talvez por isso se pense que não se tem valor e que não serve para a competição. Quem faz competição evolui muito e isso vai-se reflectir na caça do dia a dia.

No passado mês de Janeiro a Selecção Nacional não marcou presença no Master de Palma. Qual a opinião do João quando se houve, no seio da comunidade de Pesca Submarina, comentar as dificuldades que os atletas sentem para representar Portugal, quando comparadas com outras modalidades a nível nacional?

Sim é muito triste quando cada vez mais nos deparamos com dificuldades para representar o nosso país numa modalidade com um currículo invejável. Infelizmente houve outras situações em que a representação nacional com alguma preparação prévia só foi possível com o dinheiro dos atletas.
No meu entender ainda há pouco conhecimento acerca da nossa modalidade, ainda se pensa muito que pescamos com garrafas e que é fácil apanhar um peixe, que “rapamos” os fundos todos, quando é precisamente o contrário e talvez isso seja o motivo para haver tanta falta de apoios.
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Qual o principal problema, pelo ponto de vista do João, que impede o surgimento de mais jovens no circuito competitivo, que garantam a continuidade do mesmo?

A sociedade está muito mudada, mais voltada para novas tecnologias, o que se reflecte num grande sedentarismo dos jovens. No Inverno o mar não convida muito a mergulhos, quer seja pelo frio, quer seja pela agitação e resta apenas o Verão para se puderem iniciar/praticar. É difícil que se motivem pela prática, pois têm hobbies mais acessíveis onde a companhia é fácil de arranjar ao contrário da pesca submarina. Cabe a nós mais velhos tentar incentivar os mais novos a iniciarem uns mergulhos em apneia, a curiosidade pela competição virá naturalmente.
A pouca quantidade de clubes de pesca submarina a meu ver também contribui para a falta de atletas.

Qual a opinião do João relativamente às condições disponíveis aos pescadores submarinos, que temos em Portugal, quando comparamos com Espanha, por exemplo?

Nós temos umas condições medíocres, completamente desajustadas para a qualidade dos atletas que temos, pois se tivéssemos as mesmas condições que outras selecções, certamente já teríamos estado mais vezes no mais alto lugar do pódio, quer a nível individual, quer por nações.
Como o Jody me disse uma vez “geração de ouro, sem apoios………”

Durante o último Master de Palma, Rui Torres anunciou o fim da sua carreira de competição após vários anos de histórias e conquistas na modalidade. O João conviveu muitas vezes com o Rui em competições nacionais e internacionais, onde com ele fez equipa e onde contra ele competiu. Gostaríamos que o João nos contasse como recebeu esta notícia e que falasse um pouco do Rui e dos momentos que com ele partilhou.

Foi com uma grande surpresa que recebi a notícia, não estava à espera!! Algumas vezes desabafava acerca da situação da modalidade e do desânimo que isso lhe causava, que cada vez tinha menos pre-disposição para fazer esforços pessoais e individuais para continuar a competir. Os desabafos eram regulares, mas nunca pensei que o fizesse em tão curto espaço de tempo, eu próprio também desabafava e partilhava da mesma opinião. Não tenho dúvidas que foi uma das decisões mais difíceis que tomou até hoje!!
O Rui é um dos nossos grandes nomes da pesca submarina, tem uma experiência enorme a todos os níveis e o seu palmarés é o espelho disso. Tive o privilégio de fazer equipa com ele em competições nacionais e internacionais, aprendi muito e ainda espero continuar a aprender.
Fiz uma grande amizade com o Rui e com isso vieram muitas jornadas de pesca com peixes muito bonitos, vieram conquistas e derrotas também, são momentos que ficam marcados para sempre na nossa memória. 

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Na sua opinião, qual é a principal qualidade que faz um bom Pescador Submarino?

Um bom pescador submarino tem de ter instinto de caça, tem de ser tipo “perdigueiro”, para conseguir pensar durante os mergulhos, compreender os comportamentos dos peixes para perceber como apanhá-los.

Que conselhos e mensagem o João gostaria de transmitir a quem está a começar a Pesca Submarina?

Quem se inicia na pesca submarina deve de ter muito cuidado e perceber os seus limites, há-que pescar sempre em companhia e se possível com alguém mais experiente. Praticar exercício físico e tirar um curso de apneia são essenciais para uma evolução mais rápida, segura e consistente. Ler muito e nunca esquecer o lema “um peixe não vale uma vida”.

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A equipa do PortugalSub agradece ao João a sua disponibilidade para nos dar a conhecer um pouco mais de si e da sua ligação a esta modalidade de todos nós, através desta entrevista. Obrigado João Peixeiro.

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