Para mais um “À conversa com”, o PortugalSub conversou com o Pescador Submarino, Nacional, com mais anos de “carreira” competitiva de sempre ainda no activo. Representou as cores Nacionais por diversas vezes, como atleta, capitão e Seleccionador Nacional no ano em que Portugal conquistou, a nível individual com Jody Lot, o mais alto patamar da Pesca Submarina Mundial. Conta actualmente com 35 épocas consecutivas de competição, onde já subiu ao pódio diversas vezes em Campeonatos Regionais, Nacionais de Duplas e Triplas e na Taça de Portugal, tem sido uma figura incontestável no acolhimento e incentivo dos mais novos na veia competitiva da modalidade, e apesar do seu especial carisma que o define e caracteriza no seio da comunidade de Pesca Submarina, deixará saudades quando concretizar o, já diversas vezes anunciado por si, “pendurar das barbatanas”.
Paulo Silva, também conhecido no seio da comunidade de Pesca Submarina Nacional por “Francês”, tem 56 anos, é Engenheiro Técnico de Máquinas e natural de Lisboa, vive em Cascais e após o convite encetado pela equipa do PortugalSub, o mesmo disponibilizou-se prontamente a partilhar com toda a comunidade as suas histórias, opiniões e vivências na modalidade durante as últimas modestas 35 épocas.
Como e quando começou a história do Paulo Silva na Pesca Submarina?
Comecei a entrar para dentro de água com o objectivo de apanhar qualquer coisa, quando tinha doze anos, na Praia Dona Ana em Lagos e na Praia da Luz. O equipamento era “topo de gama”, barbatanas de palmo, máscara com tubo incorporado e respectiva bola para impedir a entrada de água, sem fato, fantástica espingarda de cinquenta centímetros, equipada com um tridente triangular. Com este equipamento a presa de eleição era o choco pois os sargos enormes que via passar, ficavam a “milhas” de distância e eram muito mais rápidos que o arpão.
Após nove anos, em 1982, comecei de facto a fazer Pesca Submarina com o José Ascenso, conhecido no meio por José São Tomé. Agora já equipado a preceito, fato duplo jersey, barbatanas longas, máscara e tubo separados, arma de noventa centímetros, um verdadeiro “Homem-rã”. Começámos a ir ao Cabo da Roca num pneumático que ele tinha e eu tentava aprender, algumas vezes nem pescava, apenas observava a abordagem dele às diversas situações de pesca. Durante esse mesmo ano adquiri um pneumático com 3,80m, motor de 30 cv. A partir de 1983 comecei a mergulhar em Sesimbra, Milfontes, Monte Clérigo, Carrapateira e Sagres, na companhia de mais amigos, José Andrade, Paulo Serra Lopes, José Guimarães, Joaquim Borja, Pedro Gutierres.
No seio da comunidade, o Paulo é conhecido como “o Francês”. Gostaria de partilhar a origem deste epíteto?
“Batizou-me” com esse nome o José São Tomé, por dois motivos. O que porventura pode ter mais interesse para a pesca, está relacionado com os bons resultados que a selecção francesa de pesca submarina conseguira nas décadas de 50’, 60’ e 70’ e pelo facto de ele considerar que eu estava a fazer progressos na modalidade. Nomeadamente com Jules Corman, Jean Tapu e J. B. Esclapez, Campeões do Mundo respectivamente em 1958, 1967 e 1975. Vencendo ainda por países em 1958, 1963 e 1965.
Com que frequência pratica a Pesca Submarina no seu dia a dia?
Depende principalmente do estado do mar, da disponibilidade e do período competitivo em que me encontro. Por exemplo este ano comecei com uma boa média, mergulhei metade dos dias de Janeiro. Beneficiando do convite que nos endereçou o General Manager da selecção da Nova Zelândia, Malcolm Bird, no Mundial de Syros, para disputar o Honda New Zealand Spearfishing Nationals. O Jody Lot e eu recebemos o convite, ele por ter sido Campeão do Mundo em Vigo 2012 e eu por ter sido Seleccionador Nacional nesse ano. Procuro mergulhar sempre pelo menos uma vez por semana, mesmo que tenha de ser sem arma dentro de reservas, devido ao estado do mar não permitir outros locais. Nos períodos competitivos mergulho o mais que posso, em média três vezes por semana, nas zonas de competição, sempre focado na prova que está mais próxima e no objectivo que tenho para esse evento.
Qual é a técnica de pesca em que o Paulo se sente mais confortável a executar?
Exceptuando a pesca profunda, a mais de 25m, sinto-me bem em qualquer tipo de pesca. No entanto em competição sou mais rentável até 17m em água livre, na caída vertical ou na espera e até 15m para a pesca em tocas e fendas. Para as restantes técnicas e a baixa profundidade estou bem preparado. A pesca na espuma com mar muito forte e fraca visibilidade é difícil para todos, em determinadas situações é a única possível, tento adaptar-me progressivamente.
Qual a profundidade máxima a que já pescou e qual é aquela a que se sente melhor a pescar?
Recordo-me de ter apanhado uma anchova com 8,000 Kg na baixa que se encontra a WNW da Ponta dos Rosais, Na Ilha de São Jorge. Era um exemplar isolado que nadava sobre a sua plataforma NE que está a 25m, o peixe poderia estar, talvez, a 23m. Em águas continentais nacionais, penso que o peixe mais fundo que consegui foi um bodião apanhado no Campeonato Nacional Elite em Peniche 2017, durante a 2ª jornada, ao largo de São Bernardino a 20,3m. Também no ano passado visitei algumas pedras que poderiam ter peixe, aquando da prospecção para o Euro-Africano da Croácia, a 22m, mas sem sucesso. Já este ano na Nova Zelândia creio ter mergulhado, durante a 2ª jornada, duas ou três vezes a cerca de 25m com a arma ligada à bóia, sem atingir o fundo que estaria nos 29, 30m. Era uma zona de transição entre pedras cobertas de grandes algas e a areia, onde podemos encontrar o giant boarfish que se alimenta de crustáceos e outros animais que descobre sob a areia. Não sei se foi bom ou mau não ter visto nenhum!… A resposta anterior indica as quotas a que me sinto melhor, pratico obviamente 95% da pesca dentro desses limites.
Gostaríamos que nos contasse um pouco da história do maior susto que o Paulo já experienciou a praticar a modalidade e o que poderia ter feito para o evitar?
Todos nós em determinada altura de uma saída para o mar de barco, já tivemos muita dificuldade para encontrar um dos nossos parceiros, bem como eles para nos encontrarem a nós. O tempo vai decorrendo e vamos nadando, combinamos estar em determinado local, não vimos peixe afastamos-nos, ficamos a mais de um quilómetro do barco e criamos uma situação de grande angústia para quem tenta encontrar-nos. Já procurei companheiros durante mais de trinta minutos e pensamos tudo durante esse período… felizmente, com maior ou menor dificuldade, encontrei-os sempre. O uso correto da bóia e o respeito pelos que imaginamos que devem estar a sentir a nossa ausência é a melhor forma de evitar o problema. As situações que mais temo são a passagem de barcos a alta velocidade, sem respeito pela bóia ou prancha de sinalização. O Cabo Raso, em Cascais, é das zonas mais perigosas. Já assisti aterrorizado, à passagem de uma embarcação entre mim e a prancha, quando estava submerso, sem que os ocupantes se tivessem sequer apercebido. Nem sequer estava longe da costa, pescava a três metros de profundidade, a cerca de dez metros da prancha, por fora desta. O uso de uma haste com cerca de um metro e a colocação de duas bandeiras alfa no topo torna-nos mais visíveis. A solução que me pareceu no entanto mais adequada foi passar a mergulhar no Cabo Raso, só de barco, sempre com bóia e apenas no enfiamento da embarcação em relação à passagem do tráfego, a uma distância sempre inferior a 100m desta e com a bóia sempre muito perto.
Relacionado no entanto apenas com a interacção entre o mergulho em apneia e a pesca submarina vou relatar um episódio ocorrido em 2005 na Baixa dos Rosais. A corrente estava forte pelo que decidimos ancorar uma bóia no topo da baixa que se encontra a 17m, para preparar o mergulho agarrados ao cabo pendente da mesma. Como a visibilidade estava boa, era possível ver da superfície alguns lírios que ocasionalmente nadavam em contracorrente. Em determinada altura recordo-me de ter ficado cerca de sete a dez minutos à superfície sem ver aproximar nada. Naturalmente nesta situação respiramos sempre de uma forma mais profunda que o normal e pode ocorrer a hiperventilação involuntária. Avisto dois ou três peixes de bom porte e inicio o mergulho, vou aproximando o peixe na caída, conjugando o nado com a corrente, até um ponto em que estou a cerca de 20m de profundidade a executar uma espera no azul, afundando-me no entanto lentamente. O peixe não aproximou, não exagerei a apneia e inicio a subida sempre a olhar para a parede vertical da baixa. Reparo que subo um ou dois metros e de repente continuo a nadar sem subir nada. Como já tinha alguma experiência neste local, pensei imediatamente na corrente descendente que a baixa provoca, afasto-me então dois ou três metros da parede, coloco a mão no cinto, sem o largar e continuo a subida. Cheguei à superfície sem qualquer problema aparente, entretanto o Jorge Grave que estava no barco, aproximou-se de mim. Quando tentei falar com ele verifiquei que a fala saía um pouco “enrolada”, ele constatou que os meus lábios estavam com um tom roxo azulado… estava terminada a minha jornada na baixa para esse dia. Para evitar a possibilidade de ocorrência da hiperventilação involuntária, nunca permanecer demasiado tempo agarrado ao cabo de recuperação, se não avistarmos o peixe, ainda assim mergulhamos e fazemos por exemplo uma espera no topo da baixa.
Qual é a espécie de peixe preferida do Paulo para capturar e porquê?
Considerando as três técnicas mais adequadas para a sua captura:
- Em mergulho vertical sobre um peixe no fundo (coulée);
- Em deriva ao longo da costa ou contornando uma ponta (espera em água livre);
- Em baixas afastadas da costa (uso de bóia fundeada com cabo de recuperação).
Prefiro o Lírio, quando de tamanho aceitável, peso mínimo 10 Kg. Pela diversidade de técnicas que podemos aplicar e também pelo fascínio que é ver um peixe a exibir toda a sua graciosidade e pujança simultâneas, poucos metros à nossa frente, quando antes do último pestanejar, nada havia no nosso campo visual…
Conte-nos um pouco da história da sua maior captura até aos dias de hoje.
Decorria o mês de Agosto de 1984 e estava em São Jorge para aproveitar as calmarias atlânticas. Na companhia do meu amigo Alberto Bettencourt tínhamos decidido ir pescar para os Rosais. Passámos a ponta para norte e verificámos que a corrente estava bastante forte de SE, em direcção à ponta. Navegámos para montante e começámos a fazer derivas aproveitando a corrente favorável. Em determinada altura, nadava sobre um fundo de 25m e fazia esperas no azul a cerca de 15m.
Normalmente os lírios de grande porte nadam em contracorrente, quando em acção de caça, para surpreender mais facilmente as suas presas que nadam maioritariamente em sentido contrário. Nesse dia no entanto não foi assim, estava em situação de espera e olhando em direcção à ponta, quando me apercebo de algo sobre o meu lado esquerdo, três lírios enormes “desciam” a corrente como eu. Os peixes poderiam estar a cerca de quatro ou cinco metros, não voltei a olhar para o lado e fixei um ponto à minha frente. Finalmente… apareciam de novo no meu campo visual, tapo os olhos com a mão, espreitando por entre os dedos, um deles aproxima a cerca de dois metros e disparo! O tiro não foi perfeito, mas atinge o peixe na zona do opérculo, ligeiramente abaixo e atrás do olho, saindo junto à barbatana peitoral. Pensei, vai ser difícil mas é possível. Após trinta minutos de puxa e larga o cabo da boiá, que estava fixo na arma, consigo segurar o peixe introduzindo o braço pela guelra e fixando a mão no maxilar. Alguns minutos depois o Alberto punha a bordo um exemplar com 38 Kg.
Conte-nos um pouco da história da captura que mais prazer lhe deu capturar, até aos dias de hoje.
Nos últimos dois anos tive algumas capturas muito marcantes. O ano passado, no XXXIº Campeonato Euro-Africano de Pesca Submarina Mali Losinj – Croácia, após uma 1ª Jornada muito má, pessoalmente e para a Nossa Selecção, perspectivava um segundo dia melhor! Tinha três moreias, pontuáveis aos 2,000 Kg, um safio pontuável aos 3,000 Kg e uma abrótea pontuável aos 500 g referenciados. Inocentemente pensei, se tudo correr bem poderei até fazer a quota de moreias que seriam dois exemplares. Tinha dois peixes distantes 80 m entre eles, a baixa profundidade, não parecia muito difícil…
Continuando, moreia 1 “férias”, moreia 2 “férias”, moreia 3 “férias”, abrótea “férias”, safio “férias”. Era difícil ter começado “melhor”… devido às enormes distâncias duas horas já tinham decorrido e a dificuldade aumentava. Finalmente abria a contagem com uma tainha de 810 g, logo seguida por outra que perdi por 10 g. O mar estava forte, mas a água completamente “vidro” dificultava o nosso tipo de pesca. Adiante pensei novamente, já vi tudo o que conheço, faltam trinta minutos, tenho que improvisar. Decidi ir para uma zona onde não via nenhum atleta, nem perto nem longe. Era um local normalmente muito abrigado, sem qualquer interesse. Nesse dia com o vento forte e chuva torrencial, que nem conseguia ver o barco, poderia ser melhor! Com a deslocação restavam apenas vinte minutos. Entro na água, aproximo à zona de rebentação e penso, boa escolha! Aqui está cheio de nada! Afasto-me da costa e vejo um pequeno bloco de pedra com um metro de comprimento. Aproximo, vejo um vulto escuro, pensei que fosse uma abrótea, disparo… é um bodião castanho, que pesou 710 g. O bodião pontuava a 500 g e capturei o único que pontuou, de todo o campeonato, com 51 atletas em competição durante 10 horas. Incrível…
Faltavam agora dez minutos, aproximo novamente de terra e sobre um bloco vejo um sargo. O peixe entra para debaixo da pedra, olho para o relógio, cinco minutos… tento adivinhar por que lado espreitar. Não corre bem, a pedra não dava acesso. No mergulho seguinte dirijo-me para o outro lado, vejo o peixe, de cima, a abandonar a pedra e disparo! Quase por milagre acerto no peixe que pesou 560 g. Estes dois últimos peixes são as capturas que mais gostei até hoje…
Já este ano na Nova Zelândia, durante a 2ª jornada do Honda New Zealand Spearfishing Nationals, duas vezes seis horas, duplas com largada de embarcação à barbatana, apanhei um pargo (pagrus auratus) que pesou 4,750 Kg, já sem guelras e eviscerado. Seria completo, um exemplar de aproximadamente 5,250 Kg. Foi o segundo maior pargo capturado no campeonato, com 80 atletas em prova e foi indicado para uma nomeação de mérito.
Nas águas Portuguesas, qual a zona preferencial do Paulo para pescar e porquê?
A zona continental que prefiro é a Carrapateira. Nas suas águas podemos encontrar todos os peixes existentes nas costas continentais portuguesas e também efectuar todos os tipos de pesca. Considero por isso esta zona, uma verdadeira “escola de mergulho”.
Nas zonas insulares gosto muito de S. Jorge e do Corvo, especialmente nos meses de Verão, pela temperatura da água e grande abundância de pescado.
O que seduziu o Paulo para enveredar pela Pesca Submarina de competição?
Antes de fazer a minha primeira prova, a competição de pesca submarina não despertava em mim qualquer interesse. Participei pela primeira vez, apanhei alguns peixes, vi que estava a “anos-luz” do topo. Talvez me tenha fascinado o facto de poder evoluir mais rapidamente estando na água com os melhores. Hoje em dia considero a pesca submarina de competição indispensável para que um atleta possa atingir o seu máximo na modalidade. Saliento também que considero a competição não só em relação aos outros atletas, mas essencialmente uma luta interna, que me leva a vencer o meu próprio ser, ultrapassando grandes dificuldades e atingindo patamares sucessivos, à partida inimagináveis.
Qual, quando, e como decorreu a sua primeira prova oficial na modalidade?
É uma história curiosa e algo imprevista para quem me vê actualmente na modalidade e constata a forma como a encaro. Decorria o longínquo mês de Junho de 1984 e o meu amigo José Andrade surgiu com a seguinte conversa: “Vai haver uma prova em Sagres, vai ser de triplas, podemos ir com o Fernando Damas e o Paulo (Paulo Serra Lopes) vai a nosso timoneiro.”
De pronto respondi:
“Sabes perfeitamente que não me interesso por provas, não vou.”
Voltava o Zé:
“Este fim-de-semana vamos lá abaixo, ver a zona e no próximo vamos à prova.”
Ao que respondi após alguma resistência:
“Pronto, está bem, vamos”
O que é que eu fui dizer! Não era prova de triplas nenhuma, tratava-se nem mais nem menos do Campeonato Nacional que nesse ano tal como actualmente, também era de entrada directa. Entrava então pela primeira vez em competição, logo num Nacional pela equipa Subáqua, inscrita na Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas pelo saudoso José Alvarinho, que fabricava equipamento de mergulho com o mesmo nome que a equipa.
Nem me recordo se posteriormente houve mais alguma jornada, nessa apanhei sete peixes válidos a 750 g, incluindo um robalo com 3,500 Kg, apanhado na parede da Calombreira, logo a seguir ao “Inferno”, entre um cardume com dezenas de peixes, já nos minutos finais.
Não consegui o maior exemplar do dia, porque o José Nabeiro capturou um mero com cerca de 10,000 Kg. Na estreia fui 12º classificado.
À medida que o Paulo foi crescendo na modalidade, calculamos que à semelhança de todos os jovens, teve os seus ídolos, quais foram eles? Teve a oportunidade de se cruzar com algum deles? Se sim, como foi esse encontro?
Não diria exatamente ídolos, mas sim, quando comecei as principais referências eram três, normalmente conhecidos por todos como o “trio maravilha” por terem sido todos mais do que uma vez Campeões Nacionais. Dominando completamente a modalidade entre 1974 e 1980 com os sete títulos nestes anos a pertencerem a José Valente Garcia 1974, Vitor Cruz 1975, 1979, 1980 e António Bessone Basto 1976, 1977, 1978. Na primeira prova em que participei, ainda estavam presentes o José Valente Garcia que também venceu em 1969 e o Vitor Cruz que também venceu em 1971 e 1987. Conversei com todos sobre pesca submarina, o Vitor foi sempre um pouco mais reservado, com o “Zeca” que encontro muitas vezes no mar, e com o “Toni” que vejo no mar e no ginásio ainda hoje falo, sobre o passado e presente da modalidade. Quero aqui referir também o António Silva com quem falo sempre que o encontro no mar e que é não só uma referência, como também o atleta mais titulado até aos nossos dias, oito títulos de Campeão Nacional e Vice-Campeão do Mundo.
Como se preparara o Paulo antes de uma prova importante?
A preparação é constante ao longo de todo o ano. Vou ao ginásio cinco vezes por semana, onde para além de musculação, faço bicicleta estática, passadeira e remo.
Quando a meteorologia o permite em de vez de passadeira corro na rua. Ao fim de semana pratico ciclismo. Mergulho todo o ano, quando se aproximam as provas estou naturalmente mais tempo dentro de água. Quando o mar impossibilita o mergulho, treino na piscina equipado. Faço duas ou três sessões por semana de 1500 a 2000m de natação que incluem normalmente, 18x25m de apneia dinâmica a sair ao minuto, seguido por 1X50m após um repouso maior. Sempre que posso mergulho na zona de prova onde tento preparar a competição seguinte.
Pedíamos ao Paulo para descrever o que sentiu na primeira vez que representou Portugal numa competição internacional e qual foi essa competição?
Senti a maior alegria que um atleta de competição pode ter, que é representar a sua Selecção Nacional e lutar pela sua Bandeira, independentemente do resultado que consiga obter. A minha primeira participação foi na IIª Copa Ibérica Internacional Aguete – Espanha 2010. O meu timoneiro e auxiliar foi o Maurício Fragoso. Foi uma prova complicada porque a ondulação de 7m, em mar aberto, obrigou a que a prova fosse disputada dentro da Ria de Pontevedra. O peso mínimo era 1,000 Kg, apanhei dois exemplares válidos e fui 22º classificado.
O Paulo já participou em diversas competições nacionais e internacionais, pelo que gostaríamos de questionar que títulos destacaria da sua carreira de competição e porquê?
O meu principal título foi o de Campeão Nacional de Duplas.
Campeão Nacional de Duplas (2001)
1º Jorge Grave/Paulo Silva 192,811%
2º André Domingues/Miguel Aires 177,238%
3º Rui Torres/Jorge Torres 162,606%
4º António Silva/João Cruz 161,995%
Era o reatamento do Campeonato Nacional de Duplas após um interregno e todos os melhores atletas da época, estiveram presentes. Numa prova com duas jornadas, no mês de Março – Cascais e em Outubro – Sesimbra. O Jorge apanhou também o maior exemplar, na “Malha Branca” em Sesimbra, um serra com 4,135 Kg. Para além deste tenho mais três títulos de âmbito nacional:
Vencedor da Taça de Portugal de Pesca Submarina (2016)
1º Paulo Silva 205 pontos/59 capturas
2º André Domingues 183 pontos/73 capturas
3º Pedro Domingues 168 pontos/83 capturas
4º Humberto Silva 147 pontos/45 capturas
5º João Peixeiro 116 pontos/36 capturas
Vice-Campeão Nacional de Duplas (2014)
1º João Peixeiro/Rui Torres 100,00%
2º Paulo Silva/Maurício Fragoso 66,40%
3º Manuel Maia/Vitor Oliveira 63,31%
4º Rogério Santana/António Mourinha 50,06%
Vice-Campeão Nacional de Triplas (2017)
1º Miguel Ferreira/Paulo Ferreira/Dárcio Fonseca 100,00%
2º Paulo Silva/Paulo Alves/Tiago Mota 99,95%
3º Gonçalo Sá/Catarina Santos/Arseniy Lavrentyev 57,90%
Agradeço ao atleta Vasco Silva que também contribuiu para os 205 pontos, que obtive na classificação final da Taça de Portugal em 2016, ao competir a meu lado no Troféu de Duplas Cidade de Peniche onde fomos 2º Classificados. Já neste ano de 2018, sou também virtual vencedor da Taça de Portugal de Pesca Submarina, faltando um evento para completar a competição. Agradeço ao Tiago Mota que participou a meu lado no XXº Troféu Cidade de Lagos – Duplas 2018, que vencemos. De âmbito regional tenho mais quatro títulos:
Campeão, Campeonato Regional Madeira (2016)
Campeão, Campeonato Regional Açores – Pico (2018)
Vice-Campeão, Campeonato Regional Açores – Pico (2016)
Vice-Campeão, Campeonato Regional Continente – Lourinhã (2017)
Para além destes títulos consegui, no Campeonato Nacional de Duplas, Campeonato Nacional 2ª cat., Campeonatos Regionais, Troféus e jornadas de campeonatos, 38 lugares de pódio em que se destacam duas jornadas no Campeonato Nacional Elite. Consegui também o prémio de Maior Exemplar por cinco vezes. Mais informação no meu currículo desportivo em: Currículo Desportivo de Paulo Silva
Qual foi o ponto alto da sua carreira de competição que considera ter atingido?
Já fui seis vezes internacional:
IIª Copa Ibérica Internacional Aguete – Espanha 2010
Atleta titular 22º Classificado
XXVIIIº Campeonato do Mundo de Pesca Submarina Vigo – Espanha 2012
Selecionador Nacional
IIº Atlantic Spearfishing International Master Peniche – Portugal 2015
Atleta titular 13º Classificado
XXXº Campeonato do Mundo de Pesca Submarina Ilha de Syros – Grécia 2016.
Atleta auxiliar e Capitão de Equipa.
XXXIº Campeonato Euro-Africano de Pesca Submarina Mali Losinj – Croácia 2017
Atleta titular 31º Classificado, 1º atleta nacional
IVº Atlantic Spearfishing International Master Cascais – Portugal 2017
Atleta titular 7º Classificado
O ponto mais alto foi durante a 2ª jornada do Euro-Africano na Croácia em que fui 22º classificado/51 atletas a doze dias de completar 56 anos. Atleta auxiliar, Tiago Mota.
Devido aos anos de experiência do Paulo, já assumiu diversos papeis na Selecção Nacional, entre outros, de Capitão e Seleccionador Nacional. Em 2012, Jody Lot consegue, pela primeira vez para Portugal, o título individual de Campeão do Mundo em Vigo com o Paulo Silva como Seleccionador Nacional. Como foram esses dias em Vigo como Seleccionador do novo Campeão do Mundo nesse ano?
Fui convidado para Selecionador Nacional apenas a quarenta e cinco dias do Campeonato do Mundo. Aceitei de imediato. No dia seguinte comecei a planear e orçamentar os estágios, que considerava serem o mínimo exigível para uma prestação condigna com o nosso nível. Além disso assumi de imediato e publicamente, numa entrevista filmada na Marina de Cascais, que íamos a Vigo para ganhar. A Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas aceitou o planeamento que era composto por dois estágios totalizando 25 dias. Tínhamos tudo completamente organizado, hotel, pequeno-almoço, lanche de mar e jantar em conjunto. Em relação à pesca, marina para as embarcações, com abastecimento de combustível todas as manhãs e saída para o mar em grupo. Ao fim do dia, ainda na marina, à hora do café, conversávamos acerca da prospeção, sempre num ambiente de boa disposição e camaradagem. Todos fomos progressivamente sentindo que desta vez, após 27 Mundiais e após 56 anos decorridos era possível “matar o borrego”…
Sobre este Campeonato do Mundo poderia dizer muito mais, até mesmo escrever um livro. Refiro no entanto que logo a seguir ao desempenho dos atletas, foi também importantíssima a colaboração do atleta Paulo Moreira em representação da delegação norte da F.P.A.S.. Mais algumas informações disponíveis no final do meu currículo desportivo em: Currículo Desportivo de Paulo Silva
Em 2016, Paulo Silva deixava ao PortugalSub, na partida para Syros, Grécia, na qualidade de Capitão da Selecção Nacional que ia disputar o XXX Campeonato do Mundo de Pesca Submarina, a seguinte mensagem aos Portugueses: “Para os Portugueses que nos estão a apoiar, quero que mantenham a confiança nesta selecção porque nós vamos fazer o melhor que nos for possível e vamos dar 100%, nem que tenhamos somente 50% de possibilidades vamos dar 100% desses 50% e portanto não vai ficar nada de folga, vamos dar todo o nosso melhor para fazer um bom resultado para Portugal.” Na opinião do Paulo, o que falhou nessa participação que resultou na classificação desse ano?
Após o Mundial de Syros, na qualidade de atleta auxiliar e Capitão da Seleção Nacional, enviei para a F.P.A.S. o seguinte relatório, que responde integralmente à pergunta:
– XXXº Campeonato do Mundo de Pesca Submarina, Ilha de Syros – Grécia 2016
As primeiras apneias no Mar Egeu foram simultaneamente magníficas e angustiantes. A temperatura da água era excelente a visibilidade era de trinta metros, mas o mais importante, peixe pontuável, era quase inexistente. Observei apenas três exemplares que poderiam pontuar em dez horas de reconhecimento efectivo. Desses três exemplares apenas um não deixava dúvida.
Surpreendido com esta situação, conversei com atletas e capitães de equipa de outras seleções que estavam há muitas semanas na Ilha. Nomeadamente com as delegações da Austrália, Nova Zelândia, Espanha e Brasil.
As opiniões eram de um modo geral concordantes, há trinta e mais dias, quando começaram o seu trabalho de reconhecimento, eram visíveis alguns peixes a profundidades de vinte cinco, trinta metros. Com o decorrer da prospeção, o peixe em água livre diminuiu, foi descendo progressivamente vários metros e passou a ocupar refúgios onde era praticamente impossível a sua deteção, para quem não o tivesse visto anteriormente, tanto pela profundidade como pela interdição da lanterna.
Para a Seleção Nacional que foi a última a chegar a Syros, mediante as condições encontradas, com possibilidade de fazer apenas dois dias de reconhecimento, a expetativa de um bom resultado, consentâneo com o nosso valor e com o título de Bi-Vice-Campeões do Mundo por nações que defendíamos, passou a ser naturalmente baixa.
Apesar de os nossos atletas terem atingido a profundidade máxima de 48,4 m durante o segundo dia de prova, o peixe não esteve presente, não ajudando o nosso desempenho.
Verifiquei que a maioria dos atletas de topo neste campeonato, dividiam a sua lastragem pelo cinto com um ou dois quilos, que mantinham durante toda a apneia, utilizando o pêndulo, ou um segundo cinto largável com seis, sete ou oito quilos. Desta forma não necessitavam de recolher a parte largável do lastro do fundo, ficando esta suspensa da boia por um cabo de trinta ou trinta e cinco metros de comprimento. Poupa tempo e dispêndio de energia.
Com muito mais tempo de preparação também teríamos afinado melhor os nossos procedimentos de mergulho e apneia.
Para que possamos ficar melhor enquadrados com a realidade da pesca submarina que se praticou neste Campeonato do Mundo, posso dizer que conversei com um atleta da seleção grega, Giannis Sideris, após a segunda jornada, ainda no ponto de concentração. Ele disse-me:
– Fui praticamente obrigado a mergulhar, para apanhar um mero a 59,6 m. Quase todos os exemplares que tinha visto mais baixo não estavam presentes e não tinha quase nada na jornada.
O atleta vencedor desta competição, o cipriota Giorgos Vasiliou, com quem também tive o prazer de conversar no dia seguinte, já em Atenas, disse-me que passou as duas últimas horas do segundo dia de prova, que venceu, a mergulhar entre 54 e 57 m.
Fruto de muito trabalho e empenho, a Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas, candidatou-se à organização do próximo Campeonato do Mundo de Pesca Submarina, e venceu. Assim em Sagres 2018 a Seleção Nacional terá uma oportunidade de ouro para se redimir deste resultado em águas gregas. Esperamos pelo vosso máximo apoio.
O capitão da Seleção Nacional em Syros
Paulo Silva
No ano seguinte, depois de uma enorme polémica nas redes sociais devido à participação no XXXI Campeonato Euro-Africano de Pesca Submarina, o Paulo Silva partiu para Mali Losinj, na Croácia, para o disputar como atleta titular. Como viu o Paulo essa polémica e que impacto teve esta na vossa participação?
As publicações e comentários das pessoas que amam a Pesca Submarina e a sua Bandeira foram todos muito positivos e de grande incentivo para o muito difícil trabalho que tínhamos pela frente. Os comentários das pessoas que não têm qualquer noção acerca da Pesca Submarina de alta competição, que não se compadece com o facto de ser este ou aquele que participa, mas que visa, isso sim, honrar a sua Bandeira, também foram muito importantes. Todas as manhãs ao pequeno-almoço com o Tiago e o Paulo, líamos os comentários que nos enchiam obviamente de força para “levantar pedras enormes” e dar o máximo dos máximos para defender a nossa Bandeira em mais oito horas de mar. Considerando que estávamos no Mar Adriático e como recompensa pelo apoio, fizemos um bom segundo dia, 9º Classificados em dezoito países. Nesse dia vencemos a Grécia, que está mais perto e é a Selecção actual Campeã do Mundo. Muito obrigado a todos.
Qual a opinião do Paulo relativamente às condições disponíveis aos pescadores submarinos, que temos em Portugal, quando comparamos com Espanha, por exemplo?
Na Croácia a Selecção de Espanha fez trinta dias de prospecção, a de Itália quarenta e cinco dias a da Croácia nem falar!… No campeonato do reconhecimento das zonas ficámos quase em último com oito dias. Obviamente que o valor dos atletas também conta, mas os nossos melhores atletas, que vão participar brevemente em Sagres no Campeonato do Mundo, não são inferiores a ninguém! Necessitam é de ter um orçamento adequado à exigência da competição. Espero muito, mas mesmo muito que tenham e que lhes permita lutar de igual para igual com os demais adversários.
O Paulo, devido à sua participação em provas internacionais e não só, já teve oportunidade de pescar em diferentes países, continentes e oceanos, pelo que gostaríamos que nos enumerasse alguns dos sítios em que mais gostou de pescar, porquê, e os comparasse um pouco com a costa Portuguesa.
Já mergulhei de facto em diversos locais como sejam: Cabo Verde – Ilhas do Sal, São Vicente, Sta. Luzia e Ilhéu Branco, Marrocos – Estreito, Oeste e Ad Dakhla, Tunísia – Ilha de Djerba, Espanha – Ilhas de Lanzarote, Tenerife e Maiorca, Estreito, Atlântico, Grécia – Ilha de Syros, Croácia – Ilha de Mali Losinj, Nova Zelândia – Ilhas Mercury, Great Barrier e Kapiti, Wellington. Por cá só não mergulhei no Faial, Sta. Maria, Graciosa e Porto Santo. Cada local tem a sua beleza particular, no entanto tive a oportunidade de observar alguns momentos espectaculares da vida subaquática, daqueles em que o pescador submarino hesita entre a pesca e a câmara fotográfica!…
Quando eu e o Alberto encontrámos a Baixa dos Rosais, sem sonda nem GPS, em 1984, assistimos ao momento mais marcante de toda a minha vida subaquática. O mar estava “óleo”, sem vento e à superfície desfilavam, com a barbatana dorsal fora de água, cerca de duas centenas de lírios até aos 20 Kg, numa “dança” interminável. Noutro episódio com o meu amigo Gilbert, no Ilhéu Branco, assistimos a uma concentração de dezenas de badejos sobre uma grande laje, visíveis da superfície, todos a flutuar, como se estivessem apoiados sobre a cauda olhando para cima. Este ano na Nova Zelândia, vi “florestas” de laminaria que me recordaram a costa SW do Cabo da Roca e da Praia da Adraga dos anos 80’ e 90’, quando estas algas ainda serviam de abrigo a todo um ecossistema, com os robalos no topo. Se tiver que escolher um local, embora os tenha visitado em diferentes épocas e com condições logísticas também diferentes, escolho S. Jorge e Great Barrier Island pela diversidade de espécies encontradas.
O próximo Campeonato Mundial de Pesca Submarina, já este ano, vai ter lugar em Sagres, Portugal. Segundo o Paulo, somos favoritos a vencer esta competição?
Boa pergunta! Estamos na ”luta”, mais uma vez com as melhores seleções do mundo.
A nossa principal rival de sempre, a Selecção de Espanha tem neste momento um conjunto de atletas de grande valor, habituados a trabalhar em conjunto e já ultrapassou a fase de transição pela qual passou aquando da saída de Pedro Carbonell e Alberto March, sobretudo do primeiro. Apresentar-se-á com certeza no máximo da sua força. As selecções da Croácia e Itália também se classificarão nos primeiros lugares, embora o Daniel Gospic me tenha dito em Losinj, que não estará em Sagres. Depois temos individualmente, atletas da Ucrânia, Chipre, Taiti, Chile, Grécia, Estados Unidos da América e Nova Zelândia que também podem entrar nas contas. À cabeça, temos a Nossa Selecção Nacional, aquela pela qual bate forte o nosso coração. Tenho a certeza, mais do que absoluta, que o Jody, o André e o Pedro, quaisquer que sejam as condições disponíveis, com o Rui “ao leme” e com a ajuda do Mathias, do João, do Miguel e de muitos mais, tudo farão para honrar a nossa Bandeira. Que Neptuno esteja do nosso lado!…
O que podemos esperar do Paulo Silva, futuramente, na pesca Submarina de competição?
Outra boa pergunta! Na realidade, pensei em deixar o lugar aos mais novos, no fim da época passada. Existia no entanto o convite do Malcolm Bird para conhecer e competir na Nova Zelândia, que era completamente irrecusável. Entusiasmei-me e fiz mais uma época, que ainda decorre. É verdade que também fui triatleta entre 1986 e 1995, épocas em que o Triatlo, sobretudo nas seis últimas como profissional, sempre teve prioridade sobre a Pesca Submarina. Mesmo assim completo este ano a minha 35ª época. O que significa que já não podem esperar muito…
Com os anos de experiência de Pesca Submarina, de competição e não só, que o Paulo já possui, gostaria de desafiar o Paulo a um exercício de comparação da Pesca Submarina quando iniciou a modalidade, com a actualidade?
A maior diferença está na diminuição das capturas que realizamos actualmente. Quando comecei também não apanhávamos muito peixe todos os dias, digamos que fazíamos boas pescas mais de metade das vezes que saímos para o mar. Nos dias de hoje apenas fazemos boas pescas uma ou duas vezes em cada dez saídas. Por outro lado, com a evolução técnica dos atletas e do equipamento, também enfrentamos agora situações de mar mais agrestes que antigamente. O comportamento do peixe também foi evoluindo, temos que procurar capturas onde outrora nem sequer mergulhávamos. No fundo o que se mantém é a evolução do peixe mais um degrau, seguida pela evolução do pescador, também mais um para ir conseguindo a captura. Reside nisto toda a beleza da Pesca Submarina.
Na opinião do Paulo, temos bons pescadores submarinos em Portugal em bom número?
Temos muito bons pescadores e também muito bons atletas de competição. Pessoas dedicadas, capazes dos maiores sacrifícios pela modalidade. Em função da nossa dimensão geográfica, também temos uma quantidade aceitável de indivíduos a praticar. Infelizmente não temos é um número suficiente de atletas na competição.
Também não temos uma cultura desportiva correta a nível dos organismos estatais que tutelam o desporto nacional. A Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas mereceria pelos resultados que tem apresentado na Pesca Submarina de alta competição, nos últimos sete anos, uma “atenção” muito mais significativa. Faço votos para que “Alguém” um dia leia isto e se preocupe com o assunto.
Como vê o Paulo o panorama actual e futuro da Pesca Submarina em Portugal?
A Pesca Submarina é um desporto pouco conhecido do público em geral. Um dos principais factores é o facto de não ter espectadores. O atleta mergulha em busca das capturas e “ninguém” o vê. Com a evolução tecnológica que “alimenta” as nossas sociedades actuais, sejamos pioneiros, desenvolvamos uma tecnologia que permita às pessoas que estão em terra assistir em directo, à pesca que os atletas estão a realizar. Seria também de capital importância para os grandes eventos internacionais. Atrairia grandes investidores o que provocaria um crescimento exponencial da modalidade.
Qual o principal problema, pelo ponto de vista do Paulo, que impede o surgimento de mais jovens no circuito competitivo, que garantam a continuidade do mesmo?
Dentro de alguns anos os nossos melhores atletas vão ter de passar o “testemunho” aos mais novos. Para que esta transição se possa realizar sem grandes sobressaltos, é necessário obviamente que tenhamos uma quantidade muito maior de jovens que adiram à competição. Tal como tem vindo a ser feito pela F.P.A.S. no sector feminino, isentar as atletas do pagamento de taxas de inscrição. Talvez não fosse má ideia isentar também atletas masculinos do escalão sub23. É claro que é bastante mais fácil ficar em casa a enviar mensagens, desfrutar dos magníficos jogos de computador, etc. Na pesca apanhamos frio, temos que nos esforçar, cansar muito e nem sempre conseguimos apanhar peixe. Pela positiva, podemos criar iniciativas que motivem as próximas gerações. A organização do Campeonato do Mundo pode por exemplo, disponibilizar uma embarcação, com respectivo timoneiro, para que jovens interessados, possam assistir à competição no mar. A zona sul de Sagres pode ser aproveitada para esse efeito, se o mar apresentar condições de segurança.
Na opinião do Paulo, que papel têm, ou deveriam ter, os clubes no desenvolvimento da modalidade?
Os Clubes são fundamentais, pois são potenciais angariadores de empresas interessadas no apoio ao desporto, recebendo como contrapartida a visibilidade da sua marca. Assim sendo podemos potenciar o desenvolvimento de atletas jovens, devidamente enquadrados, quer com acções de formação em piscina, quer no mar. Os Clubes também têm uma maior abertura com as autarquias locais para a disponibilização de estruturas, tais como piscinas municipais, necessárias para estes projectos.
Segundo o Paulo, qual é a principal qualidade que faz um bom Pescador Submarino?
Não diria apenas um Pescador Submarino, mas um bom atleta de uma forma mais abrangente. Considero as seguintes qualidades fundamentais:
- Disponibilidade a todos os níveis
- Vontade de aprender permanente
- Ser perseverante e saber sacrificar-se
- Treinar muito, “escutando” o seu corpo
- Ter capacidade de foco nos objectivos
Sendo a principal:
- Ter humildade suficiente para relativizar vitórias e derrotas.
Que conselhos e mensagem o Paulo gostaria de transmitir a quem está a começar a Pesca Submarina?
A Pesca Submarina é uma actividade maravilhosa, tanto do corpo, como da mente. Permite-nos quando estamos no mar, nem que seja por momentos, esquecer ou aliviar problemas que enfrentemos na nossa vida terrena. Estamos noutro mundo, não pensamos em nada para além do mar e na melhor forma de nele nos integrarmos. Procurem o conselho de pessoas experientes, que vos possam ajudar a começar bem. Aprendam as principais normas de segurança, através de um curso de mergulho em apneia. Filiem-se num Clube federado.
A equipa do PortugalSub agradece ao Paulo a sua colaboração e disponibilidade para nos revelar um pouco mais sobre si, dos seus 35 anos de competição e da sua ligação especial ao mar e a esta modalidade de todos nós. Obrigado Paulo Silva e que continues por muitos mais anos a somar às já 35 épocas.