No passado dia 28 de Outubro teve lugar a primeira fase de libertação de 100 jovens meros, num total de 150, criados em cativeiro na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO) por parte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) em águas Algarvias ao largo de Quarteira.
O Jornal regional Sul Informação acompanhou esta iniciativa e publicou no dia 29 de Outubro um artigo referente à mesma. A iniciativa em si, de um modo geral, foi bem acolhida entre todas as comunidades de pesca, incluindo a comunidade de Pesca Submarina. O que indignou a comunidade e seus representantes, que se tem vindo a observar nas redes sociais em forma de discórdia e respostas ao artigo, foram as citações integrantes no artigo proferidas pelo investigador do IPMA e coordenador desta acção, Doutor Pedro Lino.
Segundo o Sul Informação, o Doutor Pedro Lino ressalva que esta acção para além da vertente ecológica, também é importante para o mergulho recreativo, referindo mesmo que esta espécie satisfaz os praticantes de mergulho quando as encontra.
“Além da perspetiva ecológica, «a atração imediata é no mergulho. Esta é uma espécie emblemática, que faz qualquer mergulhador, quando a encontra, sentir-se satisfeito. Depois há uma vantagem: o mero, quando adota um buraco numa rocha, passa a viver nesse sítio. Quando um mergulho é organizado para esse local, é garantido que o mergulhador vai sentir-se satisfeito».”
Em outra das citações, Pedro Lino menciona que uma das problemáticas para a redução do número de espécimes, que se tem verificado, está relacionado com o comportamento destes que se aproxima dos mergulhadores e caçadores Submarinos, sendo esta a causa maioritária para o seu fim.
“«A costa do Algarve é uma zona com pesca intensa e, depois, como é um predador de topo, existe em baixa densidade e não tem medo de outros predadores, nomeadamente de seres humanos. Quando um mergulhador ou um caçador submarino se aproxima, ele vai ter com eles, e é assim que é, muitas vezes, o seu fim»”
Finalmente numa última citação, Pedro Lino assume que a probabilidade destes meros libertados serem capturados por Pescadores Submarinos é elevada dado, segundo ele, o mero ser um troféu para a modalidade pelo seu tamanho mas não por ser de fácil captura.
“A divulgação dos locais onde foram libertados os meros é, para Pedro Lino, «uma faca de dois gumes. Se não divulgamos, não recebemos a informação de volta e acabamos sem feedback. Se divulgamos, corremos o risco de as pessoas irem lá pescar deliberadamente», até porque, no caso da caça submarina, «é um troféu, devido ao seu tamanho muito grande, mas não pela dificuldade de o capturar».”
Artigo integral do Sul Informação: Meros na costa algarvia são «atração imediata» para o turismo subaquático
Foram estas as palavras do investigador do IPMA que incendiaram a comunidade de Pesca Submarina, que o acusaram, através das redes sociais e no espaço dedicado a comentários na notícia do Sul Informação, de parcialidade e desinformação nas suas declarações. Para a comunidade, o desaparecimento do mero na costa Portuguesa, não pode ser, de forma alguma, atribuído à modalidade de pesca mais sustentável, de menor impacto, a única que é selectiva e também amiga do ambiente.
A Associação Portuguesa de Pesca Submarina e Apneia (APPSA), em representação da comunidade e na pessoa do seu presidente, Armando Maçanita, publicou nos seus suportes de comunicação (Facebook e página oficial), no dia 1 de Dezembro, uma carta dirigida ao investigador do IPMA Doutor Pedro Lino, onde informa que perante as suas declarações no Sul Informação não podia deixar de as comentar e demonstrar o seu descontentamento pela tentativa, intencional ou não, de denegrir a Pesca Submarina. A mesma termina com um pedido directo ao investigador para que formule um pedido de desculpas pelas suas declarações ao Sul Informação, demonstrando-se disponível para futuras colaborações que possam envolver a comunidade Portuguesa de Pesca Submarina e Apneia.
Carta publicada pela APPSA: Direito de resposta às declarações do investigador Pedro Lino ao Jornal Sul Informação
O PortugalSub esteve à conversa com Pedro Costa Santos, membro da direcção da APPSA, e fez algumas questões sobre este tema, que agora transcreve de seguida.
Como a APPSA teve conhecimento da notícia do Sul Informação e das declarações do investigador do IPMA, Doutor Pedro Lino?
Esta notícia chegou-nos através das redes sociais. As redes Sociais são hoje um importante veiculo de disseminação de notícias e partilha de artigos e dependo do tema e polémica gerada, rapidamente o tema circula por toda a comunidade.
Qual foi a primeira reação da APPSA ao teor da notícia?
A primeira reação foi de surpresa logo seguida de desapontamento. Ver estas declarações por parte de um membro do IPMA depois de todo o trabalho efetuado pela APPSA na sensibilização para as boa práticas ambientais e o reconhecimento por vários organismos governamentais e não governamentais da Pesca Submarina como a modalidade de pesca lúdica com menos impacto tanto nas capturas como nos ecossistemas Marinhos é lamentável. Principalmente com argumentos falaciosos e cientificamente incorretos.
A APPSA publicou nos seus suportes de comunicação (Facebook e página ofical) uma resposta formal ao investigador do IPMA Doutor Pedro Lino, onde, depois de mostrada indignação pelas suas declarações consideradas sem fundamento e que denegriam o bom nome da modalidade, chegando mesmo a considerá-las como “enormidade de disparates”, terminaram com um pedido ao mesmo para apresentar as suas desculpas e abriram as portas a futuras colaborações da APPSA em outras acções à semelhança desta. O pedido de desculpas por parte do Sr. Pedro Lino já teve lugar? Já houve algum contacto por parte do Sr. Pedro Lino com a APPSA? Se sim, quais foram os principais resultados?
Logo após termos tido conhecimento deste artigo, entrei em contacto com o jornalista em questão e formalizei junto da diretora do Sul Informação a nossa indignação e disponibilidade para corrigir as inverdades proferidas pelo investigador manifestando preocupação pelo facto de poder ser passada para a população em geral uma má imagem da Pesca Submarina e dos seus praticantes. Ao dia de hoje ainda não obtivemos resposta do Jornal Sul Informação.
Recebemos um contacto por parte do Sr. Pedro Lino que falou com o nosso Presidente (Armando Maçanita) no qual explicou que …“as suas palavras forma mal interpretadas”… . E que tem até muita consideração pela caça submarina.
Seja má interpretação do Jornalista ou apenas um descuido verbal do Sr. Pedro Lino a verdade é que foi uma situação lamentável, poderia ter sido evitada e deixou uma má imagem da Pesca Submarina que para além de injusta e infundada não podemos aceitar.
Ponderam algumas ações no seguimento desta notícia, para que a opinião pública que teve acesso à notícia seja devidamente esclarecida sobre a verdadeira natureza desta modalidade?
Sim, ficou claro que precisamos de comunicar não só com os nossos praticantes mas também com o público em geral.
Verificámos em conversa com o Jornalista autor da peça, Nuno Costa, que na sua ideia, a pesca submarina se fazia com auxilio de garrafas de oxigénio. Enquanto este e outros mitos existirem e não forem desmistificados o nosso trabalho não está completo.
Cabe á APPSA mas também a cada um de nós (Pescadores Submarinos) agir em conformidade e explicar a verdadeira essência desta modalidade difícil mas apaixonante. Esta é uma área onde temos estado a trabalhar e brevemente daremos algumas novidades aos nossos associados e á modalidade em geral.
Precisamos dar a conhecer a nossa modalidade. A Pesca Submarina não faz parte do problema, faz parte da Solução e o seu conhecimento profundo das espécies é com certeza uma mais valia não só para o IPMA como para os temas relacionados com o MAR.
Todos os que atentarem contra o bom nome da modalidade terão em nós forte oposição.
Que conclusões se podem tirar de toda esta situação?
Esta situação confirmou que há lobbys que agem concertados na defesa dos seus interesses (mergulho recreativo). A comunidade tem que perceber que só tem a ganhar em se unir. Sozinhos rapidamente perderemos a nossa capacidade de negociação e insinuação junto das tutelas e consequentemente perderemos também os nossos direitos.
A APPSA e a Pesca Submarina contam convosco.
Um grande Abraço.
O PortugalSub também contactou o investigador do IPMA, Doutor Pedro Lino, numa tentativa de aferir a sua opinião e posição sobre o impacto verificado das suas declarações junto da comunidade, mas até ao momento ainda não foi possível obter uma resposta.
Entretanto, a APPSA publicou hoje, nos seus suportes de comunicação, uma carta aberta dirigida ao Doutor Pedro Lino redigida pelo Professor Doutor João Pedro Barreiros. Professor Agregado em Etologia, Doutor em Biologia/Ecologia Animal e estudioso do mero Epinephelus marginatus, membro do Grouper & Wrasse Specialist Group da International Union for the Conservation of Nature, membro do Groupe d’Études du Mérou, presidente da Comissão Científica da APPSA e seu delegado nos Açores, o Professor Doutor João Pedro Barreiros é um dos, se não o mais conceituado especialista nesta espécie em Portugal, e refuta nesta carta as declarações do Doutor Pedro Lino, no artigo do Sul Informação, com argumentos válidos resultantes de anos de estudo desta espécie, chegando mesmo a declarar que sentiu tristeza, estranheza e estupefacção quando leu o artigo em questão, mostrando-se disponível para quaisquer esclarecimentos adicionais sobre o assunto.
Cata aberta do Professor Doutor João Pedro Barreiros: Carta Aberta ao Doutor Pedro Lino
O PortugalSub irá continuar a acompanhar esta situação e reportar os desenvolvimentos que forem surgindo referentes à mesma.
Actualização (09-12-2016 11:00):
O PortugalSub já teve a oportunidade de conversar com o Doutor Pedro Lino e colocar-lhe algumas questões. Saiba mais em “Um mal entendido segundo Pedro Lino“.