Carreto, sim ou não?

Uma dúvida muito comum que ocorre no início da “carreira” de qualquer pescador submarino quando este se encontra em pleno progresso na sua fase de aprendizagem, mais concretamente na fase em que já se sente confortável na água rodeado de todo o seu equipamento e começa a sentir uma necessidade de explorar técnicas e truques que o auxiliem em capturas diferentes, é a dúvida sobre a utilização ou não de carreto nas suas armas de pesca.

Tema muito controverso no seio da comunidade de Pesca Submarina, devido à grande disparidade de ideias e experiências vividas pelos pescadores submarinos, normalmente traduz-se em largas discussões entre os intervenientes quando é abordado. Existem os pescadores que utilizam e recomendam incondicionalmente a sua utilização e por outro lado estão os outros pescadores que não defendem a sua utilização, chegando mesmo a afirmar que este atrapalha.

Nas redes sociais, mais especificamente em grupos dedicados à modalidade, existem inúmeras discussões onde pescadores menos experientes colocam a eterna questão da utilização ou não utilização do carreto aos pescadores com maior experiência, causando de seguida um disparo de inúmeros pontos de vista distintos, sempre acompanhados dos devidos prós e contras, e outras técnicas que podem ser utilizadas em substituição, o que na maioria das vezes deixa ainda mais confusos quem procura somente uma resposta directa e devidamente fortalecida com casos práticos e reais de quem já acumula anos de jornadas no mar em busca das boas capturas.

O PortugalSub, com este artigo, procura ajudar na resolução desta questão para quem partilha esta dúvida, mas adianta desde já que a resposta simples e directa, muitas vezes procurada, do sim ou não, não existe neste caso e em muitos outros no que diz respeito à Pesca Submarina e Apneia. Este facto pode parecer complexo numa primeira abordagem do tema, que o PortugaSub procura clarificar, mas a resposta procurada dependerá sempre somente do próprio pescador, independentemente do que lhe for aconselhado, e do que o mesmo pretende realizar em termos de pesca.

O que é um Carreto para a Pesca Submarina

Para se abordar a questão da utilização, ou não, de um carreto e as suas vantagens e desvantagens aquando a sua utilização, é vantajoso conhecer alguns dos tipos de carreto mais utilizados e o seu funcionamento.

O carreto é uma peça acessória às armas de Pesca Submarina, sendo opcional a sua utilização. Pode-se separar em dois grandes grupos os carretos mais utilizados, carretos verticais e horizontais. Os carretos horizontais, mais comuns, podem ser encontrados em diversos materiais, desde o plástico ao inox, formas e fabricantes. Denominam-se de horizontais pois é nesta posição que se encontram, girando num eixo vertical para enrolar ou desenrolar o fio.

carretoHorizontal

Os carretos verticais, podem ser encontrados também em diversos materiais formas e fabricantes, como o seu primo horizontal. Neste caso o carreto encontra-se disposto verticalmente e gira sobre um eixo horizontal.

carretoVertical

O carreto, seja vertical, horizontal, de plástico, inox, ou outro, permite, de uma forma muito sucinta, estender em comprimento o cabo que liga o arpão à arma, neste caso específico ao carreto e este por sua vez é que liga à arma, de uma forma cómoda de modo a ser possível um incremento em dezenas de metros a essa ligação, permitindo recolher o arpão após um disparo.

Vantagens e desvantagens da utilização de carreto

Como vantagens identificadas na utilização do carreto podem-se enumerar as seguintes:

  • Permite trabalhar um peixe de forma a evitar que o mesmo rasgue mais rapidamente, possibilitando a recuperação deste de forma mais suave, normalmente já desde a superfície, ou pelo menos permite cansar e segurar o peixe até se dobrar o tiro;
  • Permite subir à superfície quando arpoado um peixe de dimensões apreciáveis sem ser necessário largar a arma e perder ambos, perante a luta do peixe. Este processo depende, obviamente, de diversas variáveis, pois a título de exemplo, se o peixe for realmente de grandes dimensões, trata-se de adiar o inevitável;
  • Permite subir à superfície juntamente com a arma para recuperar depois o arpão ou o peixe quando estes ficam presos no fundo, evitando desta forma perder a arma, ou passar largos períodos de tempo à sua procura, quando as águas estão mais turvas e/ou com corrente;
  • Permite marcar um buraco, ou outra situação, no fundo do mar com o arpão e depois libertar fio até à superfície de modo a se realizar uma melhor preparação e com outra arma voltar ao sítio ou mesmo chamar mais alguém para mergulharem na marcação prévia.

Como desvantagens identificadas na utilização do carreto podem-se enumerar as seguintes:

  • Atrito provocado pelo carreto na água, que é directamente proporcional ao seu tamanho e por sua vez à capacidade deste, quando é necessário deslocar a arma em movimentos laterais rápidos, apesar de ser um problema global, acentua-se mais quando se pesca na espuma pela necessidade de movimentações rápidas;
  • O fio pode travar numa das voltas da bobine, formar um nó quando molhado e travar, travar caso não se encontre devidamente enrolado, travar nos elásticos, travar no próprio carreto, entre outros, perante estes casos o factor carreto deixa de existir.

Alternativas ao Carreto

Existem alternativas ao uso do carreto, utilizadas por muitos pescadores submarinos, que à semelhança do anterior, também possuem as suas vantagens e desvantagens.

Utilização da bóia de sinalização

Existem muitos pescadores submarinos que utilizam a bóia de sinalização com um cabo flutuante e um peso na ponta a servir de poita (geralmente ligado a um mosquetão ou outro mecanismo de engate rápido), normalmente na mão ou “entalada” no cinto de lastro. Esta opção, para além de servir de sinalização de que um mergulhador se encontra na área (é de utilização obrigatória por lei), de suporte para transporte de material, descanso, ou outro, pode servir também de sputnik para auxiliar nas descidas, para marcar buracos ou outros pontos interessantes no fundo do mar, um arpão preso no fundo ou num peixe em um buraco, simplesmente largando a poita no sítio a marcar, ou quando necessário trocar-se o cabo da bóia, da poita para a arma para trabalhar um peixe. Desta forma, dificulta a perda da arma perante uma má visibilidade ou a presença de correntes.

Este processo, principalmente para quem se está a iniciar, pode ser de utilização complexa, nomeadamente quando o pescador percorre o fundo entre grandes pedras e não largou a poita antes ou quando é necessário passar o cabo da bóia da poita para a arma. No primeiro cenário, apesar de ser fácil e rápido retirar a poita do cinto e largar a mesma caso o cabo fique preso numa aresta de uma rocha, para um iniciante que ainda não está completamente à vontade no meio aquático, pode-se tornar perigoso. Na segunda situação, a falta de experiência é também o factor a ter em conta pois no início as apneias são curtas e todos os segundos contam, o que pode dificultar o processo de manter a calma e ter tempo suficiente para mudar o cabo da poita para a arma.

Utilização da bóia directamente ao arpão

Técnica maioritariamente utilizada para pesca no azul em busca dos grandes exemplares, consiste em ter um cabo acoplado a uma bóia, ou mais bóias próprias para este tipo de pesca, utilizando clips mosquetão ou outros, sendo a outra ponta presa ao cabo proveniente do arpão. Quando é desferido um tiro e o peixe arpoado arranca levando o arpão, o cabo da bóia segue o peixe deixando o pescador livre, de arma na mão, com tempo para regressar à superfície calmamente, para depois trabalhar o peixe manejando a bóia, ou bóias, e o respectivo cabo de modo a recolher o mesmo.

Tradicionalmente esta técnica não se utiliza noutro tipo de pesca sem ser no azul para os grandes exemplares, pois seria complicado progredir no fundo rochoso (ou laminária quando aplicável) entre grandes pedras, ou pescar em buracos pequenos, sem ser necessário largar a arma devido ao cabo da bóia ter ficado preso numa aresta de pedra. Também dificulta bastante a sua utilização na pesca na espuma ou junto à costa, pois a bóia e/ou o cabo irão ficar presos em rochas fora de água e o rebentar das ondas aplicam puxões na arma o que dificulta as capturas no momento do tiro.

Utilização da bóia directamente à arma

Esta técnica é provavelmente a mais utilizada pelos pescadores submarinos quando estão a dar os “primeiros passos” na modalidade. Consiste em prender o cabo da bóia de sinalização directamente ao punho da arma e pescar desta forma. As vantagens inerentes à utilização desta técnica são semelhantes às vantagens da utilização da técnica de “utilização de bóia de sinalização” descrita anteriormente, com a diferença de que não é necessário mudar o cabo da bóia, da poita para a arma dado que neste caso concreto esse cabo está permanentemente preso na arma.

Utilizando esta técnica, torna-se complicado progredir no fundo rochoso (ou laminária quando aplicável) entre grandes pedras, ou pescar em buracos pequenos, sem ser necessário largar a arma devido ao cabo da bóia ter ficado preso numa aresta de pedra. Também dificulta bastante a sua utilização na pesca na espuma ou junto à costa, pois a bóia e/ou o cabo irão ficar presos em rochas fora de água e o rebentar das ondas aplicam puxões na arma o que dificulta as capturas no momento do tiro.

Conclusões

Após a análise das vantagens e desvantagens da utilização de carreto e de outras alternativas ao mesmo, conclui-se que não existe a resposta sim ou não como solução à questão da utilização de carreto. Esta decisão caberá sempre ao pescador mediante o tipo de caça que irá realizar, na espuma, ao buraco ou espera a mais profundidade, a sua experiência e o nível de conforto que possui no meio aquático em que vai mergulhar, rodeado de todo o equipamento necessário.

Para o pescador tomar estas decisões, será necessário experimentar as diversas técnicas para perceber qual a melhor a que se adapta em determinadas ocasiões.

Em suma, respondendo à questão de “devo ou não utilizar carreto na minha arma?”, o PortugalSub aconselha que, perante os preços que hoje em dia é possível adquirir um carreto (não são tão proibitivos como à uns anos atrás) e caso o pescador em causa já se sinta confortável dentro de água, deve experimentar se o carreto preenche as suas necessidades na pesca que realiza, e somente após este teste ele próprio conseguirá concluir quando deverá pescar, ou não, com carreto.

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