À conversa com Miguel Ferreira

De volta à rubrica “À conversa com…”, o PortugalSub conversou com um Pescador Submarino acarinhado e bem conhecido da comunidade Nacional e também Internacional. Figura quase omnipresente nos eventos nacionais da modalidade, ele é também atleta de competição à 15 anos consecutivos e Campeão Nacional em título, na modalidade de triplas de Pesca Submarina.

Miguel Ângelo Martins Ferreira, 37 anos de idade, de Cascais, mais conhecido no seio da comunidade somente por Miguel Ferreira, diz-se amante do mar e da Pesca Submarina e esteve à conversa com o PortugalSub, culminando neste “À conversa com Miguel Ferreira”, onde em resposta ao desafio do PortugalSub partilhou com todos nós algumas curiosidades e confirmou algumas certezas referentes à sua forma de estar na Pesca Submarina.

Como e quando começou a história do Miguel Ferreira na Pesca Submarina?

A minha história da pesca submarina começa no verão de 1996, quando o meu Irmão me levou a caçar com ele na Guia em Cascais, ele já tinha começado a caçar a algum tempo e não se calava com aquilo, lá me convenceu ao fim de algum tempo e fui com um fato de surf, uma mascara cor de rosa, um respirador que me feriu os lábios ao fim de 1h, pés de pato, uma faca de cozinha presa num cinto de couro. Ao fim de três horas saí da água orgulhoso com o meu primeiro polvo (não vou dizer o tamanho 🙂 ) e sem sentir as mãos e os pés.

Com que frequência pratica a Pesca Submarina no seu dia a dia?

Tento ir sempre que o mar deixa, tenho alguma disponibilidade para isso. Também tento fazer todos os anos uma ou duas viagens para pescar em outras águas.

Nas águas nacionais, qual a zona preferencial do Miguel para pescar e porquê?

Gosto muito de Sagres, tem muita variedade de peixe e passo sempre bons momentos nessa vila.

Qual é a técnica de pesca em que o Miguel se sente mais confortável a executar?

Gosto de caçar à espera e ao buraco, são as técnicas que domino melhor.

Qual a profundidade máxima que já pescou e qual a que se sente melhor a pescar?

A maior profundidade a que estive a caçar foi 28m, mas raramente passo os 18m, só em situações especificas é que mergulho mais fundo. Não sou um profundista, longe disso, gosto de caçar em cotas baixas onde consigo empregar um bom ritmo e capturar várias peças.

Gostaríamos que nos contasse um pouco da história do maior susto que o Miguel já experienciou a praticar a modalidade e o que poderia ter feito para o evitar?

Nunca tive nenhum susto de morte, apenas aqueles sustos que todos os que pescam a alguns anos já tiveram, barcos a passar por cima etc.. Tive um acidente a alguns anos em Sines quando pescava com dois amigos, arpoei um robalo de bom porte pela barriga, ao ver que se ia desferrar avancei para ele e assim que o agarrei o arpão soltou-se, não foi um tiro mortal e o animal ainda tinha muita força, assim que cheguei a superfície peguei na faca para o rematar mas no momento em que o fazia, por distracção ou aselhice espetei a faca na mão. Cortei o tendão do polegar direito e ainda hoje tenho poucos movimentos desse dedo.

Qual é a espécie de peixe preferida do Miguel para capturar e porquê?

O que me dá mais gosto é o Sargo, adoro trabalhar um buraco de sargos, gosto do jogo do rato e do gato, se houver Sargos, se forem grandes, perco-me e sou capaz de andar o dia todo naquilo…

Conte-nos um pouco da história da sua maior captura até aos dias de hoje.

A minha maior captura até hoje deve ter sido um Mero Espanhol, foi no estreito e não tem história, espreitei para um buraco com bom aspecto e la estava ele a olhar para mim, foi apontar ao “apagador” e pronto.

Conte-nos um pouco da história da captura que mais prazer lhe deu capturar, até aos dias de hoje.

Os peixes que mais prazer me deram capturar foram as Corbas, pela sua dificuldade, o raio do peixe ouve o mecanismo do disparo e desvia-se literalmente do tiro. Tive um episódio engraçado em Palma de Maiorca, no Open Memorial Sabastian Carbonel, onde participava numa prova de triplas em que tínhamos um buraco atestado com Corbas, que decidimos que seria a nossa primeira caída. O resultado foi uns 8 tiros falhados até apanhar a primeira e o resto desapareceu… O meu amigo Rui Torres já me tinha alertado para o fenómeno mas nós não acreditámos e deu nisto.

O que seduziu o Miguel para enveredar pela Pesca Submarina de competição?

É simples, sou competitivo por natureza, quando era mais novo, fiz desporto de competição (Hóquei em Patins) até aos 16 anos, e era aquele tipo de miúdo que perder era a maior maldade que me podiam fazer, do tipo que tinha que ganhar até nos treinos… Depois aprendi que nem sempre se ganha e que a maior vitória é saber lidar com a derrota, tornei-me um bom competidor, com espírito de amizade e sempre com vontade de competir. Na Pesca Submarina penso que todos me conhecem por ser bem-disposto nas provas e estar sempre com pica para a prova seguinte. Já faço competição há muitos anos e sempre ininterruptamente, apesar de ter ganho provas muito poucas vezes.

Qual, quando, e como decorreu a sua primeira prova oficial na modalidade?

Se não me engano 2003 em Sagres, no Campeonato Nacional de Terceiras Categorias, que ficou marcado por muito pouco peixe e pela minha passagem a segundas categorias com um peixe válido, uma Salema de 900g que capturei com um tiro de cima para baixo (difícil) ao buraco.

Na realidade a competição já tinha começado alguns anos antes de forma não oficial em torneios não federados, por isso não estranhei muito.

Como se preparara o Miguel antes de uma prova importante?

Tento ter disponibilidade para fazer alguma prospecção nos dias anteriores, mas apesar de saber da importância da preparação normalmente não faço mais do que 5 dias de reconhecimento.

Pedíamos ao Miguel para descrever o que sentiu e como correu a primeira vez que representou Portugal numa competição internacional e qual foi essa competição?

Oficialmente nunca tive esse prazer, mas a sensação é boa, é um misto de orgulho/responsabilidade de que gostei muito. A minha primeira competição internacional foi em Kriastiansund na Noruega .

O Miguel já participou em diversas competições nacionais e internacionais, pelo que gostaríamos de questionar quais destacaria da sua carreira de competição e porquê?

Sem dúvida que a competição que mais me marcou foi na Noruega, participei com dois amigos, o Rodrigo Salvador e o Jody Lot (ainda não era campeão) e tivemos uma excelente prestação com um 2º lugar. Também não me posso esquecer de ter participado no Open de Palma de maiorca fazendo Dupla com o Rui Torres, foi igualmente espectacular e a concretização de um sonho.

Qual foi o ponto alto da sua carreira de competição que considera ter atingido ate aos dias de hoje?

Em determinada altura da competição cheguei a roçar o Top Ten Nacional, estive durante 2 anos em 11º no Ranking, o que considero ser muito bom, de resto já ganhei algumas provas, maiores exemplares, mas de verdade o que considero de grande valor são os 15 anos de competição ininterrupto que tenho e a vontade de continuar que não passa.

O Miguel já compete à um tempo considerável e ainda persegue um título individual, qual é a chave para continuar esta caminhada, mesmo quando a vida pessoal e profissional apontam em sentido oposto, como acontece com a maioria dos praticantes?

No meu caso sou um privilegiado, a minha vida profissional está umbilicalmente ligada a Pesca Submarina e tenho a sorte de ter uma companheira e um filho que me acompanham e apoiam em tudo. O Titulo que me perguntas, acho que o perseguirei até ser velhote, pois a esperança é a ultima a morrer apesar das hipóteses serem escassas.

Qual o título que o Miguel sempre ambicionou conquistar?

Acho que como todos os competidores é o de Campeão Nacional, os títulos europeus e mundiais são um sonho que é só para poucos.

À medida que o Miguel foi crescendo na modalidade, calculamos que à semelhança de todos os jovens, teve os seus ídolos, quais foram eles? Teve a oportunidade de se cruzar com algum deles? Se sim, como foi esse encontro?

Sim tive e tenho alguns, e conheço-os todos o que é um privilégio. Vou enumerar: Em Portugal tenho o António Bessone, Antonio Silva, Rui Torres e Jody Lot, no estrangeiro José Amengual, JB Esclapez, Pedro Carbonel, Alberto March, Daniel Gospic e Samuel Tomas.

Basicamente fui ao encontro deles, já jantei com o Amengual e Esposa em Palma de Maiorca, Fui a uma feira internacional onde privei com o Esclapez, já estive dentro de água a competir com o Carbonell, March, Gospic, Tomas, Rui Torres , Toninho e Jody e passo horas a ouvir as histórias do Bessone.

O Miguel, devido à sua participação em provas internacionais e não só, já teve oportunidade de pescar em diferentes países e continentes, pelo que gostaríamos que nos enumerasse alguns dos sítios que mais gostou de pescar, porquê, e os comparasse um pouco com a nossa costa.

O Sitio onde mais gostei de pescar for no estreito de Gibraltar, pela sua complexidade e abundância de peixe, não é comparável às nossas aguas, pois tem visibilidades e temperaturas diferentes, fauna e técnicas diferentes das que usamos em Portugal continental.

Também gostei muito da Noruega, tem águas cristalinas e peixes diferentes.

Nos dias de hoje, observam-se cada vez menos clubes a apoiar esta modalidade com atletas, na opinião do Miguel que está à frente do Clube Pescasub, porque essa tendência se tem verificado e qual é o papel de um clube no sucesso do atleta?

O problema em Portugal é que o desporto é futebol e o resto é paisagem, não existe apoio para as outras modalidades e isso é evidente. Os clubes no caso da Pesca Submarina existem apenas por carolice de algumas pessoas, apenas e só.

No nosso caso temos cerca de 40 atletas filiados e apoiamos os nossos atletas a não desistir, temos treinos de piscina semanalmente, organizamos encontros, convívios, jantares e viagens e cursos com a esperança de não deixar morrer a modalidade.

O Miguel Ferreira é bastante conhecido dentro da comunidade de Pesca Submarina Nacional e Internacional. Na opinião do Miguel, qual é a causa para tal acontecer?

Bem esta pergunta não deveria ser feita a mim, mas talvez seja o facto de ser viciado neste desporto que me torna uma pessoa sempre presente em tudo o que está ligado a ele e dai venha a popularidade, se é que sou popular, se calhar sou um bom Rapaz 🙂

Actualmente, qual é o cargo/papel oficial do Miguel na marca de material de Pesca Submarina e Apneia Salvimar, em Portugal?

Sou o Representante da Salvimar em Portugal e Palopes, com excepção do Brasil.

O que levou o Miguel a representar esta marca em Portugal?

Durante algum tempo fiz uma prospecção de mercado indo a feiras e ouvindo algumas opiniões, até que surgiu a oportunidade e achei ser uma boa aposta, não estou nada arrependido, pelo contrario estou muito satisfeito e orgulhoso.

A aceitação da marca por parte da comunidade tem sido a esperada?

Sim tem sido muito boa, mesmo com a recessão que se fez sentir no país, durante os últimos anos penso ter tido um bom feedback.

De que formas, na opinião do Miguel, as marcas de material de Pesca Submarina e Apneia podem ajudar a Pesca Submarina em Portugal?

Acho que todas deveriam ter um papel importante nesta matéria, eu pela minha parte, tento ajudar no que posso, apoio Atletas, patrocino eventos e faço publicidade nos Mídia.

Na opinião do Miguel, perante a comunidade tem sido fácil a tarefa de separar o Miguel Ferreira, Pescador Submarino lúdico e de competição, com o Miguel da Salvimar?

Sim acho que consigo separar bem as minhas diferentes facetas, sou treinador desportivo, dou cursos, represento uma marca, sou atleta de competição federado, sou sócio fundador da APPSA, sou presidente de um clube etc.. sou CAÇADOR SUBMARINO!

Como vê o Miguel o panorama actual e futuro da Pesca Submarina em Portugal?

Vejo com alguma preocupação, mas como sou um optimista também o vejo com muita esperança.

Na opinião do Miguel, temos bons pescadores submarinos em Portugal em bom número?

Sim estamos ao melhor nível mundial, temos um top 5 de Campeões e um top 10 que não envergonha ninguém.

Qual o principal problema, pelo ponto de vista do Miguel, que impede o surgimento de mais jovens no circuito competitivo, que garantam a continuidade do mesmo?

A pesca submarina não é um desporto da moda, para 99% dos jovens que olham para o mar o surf tem mais pinta, a maioria nem sequer gosta de peixe e acham que peixe é Douradinhos… As playstations são muito mais fáceis para o país e no final querem todos ser o Cristiano Ronaldo. Há sempre excepções e estou a ser exagerado claro.

Qual a opinião do Miguel relativamente às condições disponíveis aos pescadores submarinos, que temos em Portugal, quando comparamos com Espanha, por exemplo?

Em Portugal a Caça Submarina é olhada de lado com desconfiança, em Espanha a Caça Submarina é considerada um desporto e é olhada com interesse. Em Espanha dão valor aos títulos que se conquistam com a pesca submarina e no geral consideram que se gostas do mar e de pescar tens direito a fazê-lo e defendem-no com orgulho. Apesar de sermos um povo snob e de levarmos porrada de todo o lado, mesmo assim não queria se Espanhol!

Na sua opinião, qual é a principal qualidade que faz um bom Pescador Submarino?

Eu acho que um bom caçador submarino tem de ser persistente, não se consegue ser bom de um dia para o outro, tem de ter experiência acumulada, e algum talento também. As horas que se passam no mar são muito importantes e os caçadores que acompanham também.

Que conselhos e mensagem o Miguel gostaria de transmitir a quem está a começar a Pesca Submarina?

É fácil, não desistam na primeira tentativa, se tiverem de ser caçadores submarinos o mar vai encarregar-se de o fazer, é quase como se fosse uma droga…mas saudável.

A equipa do PortugalSub agradece ao Miguel a sua disponibilidade para nos dar a conhecer um pouco mais sobre si e da sua ligação especial ao mar e a esta modalidade de todos nós. Obrigado Miguel Ferreira.

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