Foi publicado, no passado dia 20 de Janeiro de 2016 na revista Scientia Marina, um artigo, de Pablo Pita e Juan Freire, que estuda o real impacto da Pesca Submarina nas populações de peixes, alvo desta modalidade, em águas da Galiza. Este estudo foi financiado pelo Governo Autónomo da Galiza, Xunta de Galicia.
Como ponto de partida, foi fixada a hipótese de que após uma competição de Pesca Submarina, seria expectável de que a densidade de peixes na área da mesma diminuiria. Seria também espectável de que quanto menor fosse o tempo desde a última competição e quanto maior fosse o volume de capturas, maior seria o impacto negativo nas populações de peixe.
Para testar esta hipótese, foram escolhidas duas zonas para estudo, Mera e O Portiño, de onde foram recolhidos os dados relativos a censos subaquáticos visuais realizados nas duas zonas, 146 entre 2003 e 2007, e cruzados com os dados do arquivo de provas de competição de Pesca Submarina na zona, mantidos pela FEGAS (Federação Galega de Actividades Subaquáticas), com dados recolhidos em questionários realizados aos Pescadores Submarinos e também com os registos de pescado capturado e desembarcado na pesca comercial.
Reunidos e confrontados os dados recolhidos, foram vários os resultados obtidos. Verificou-se que o volume de capturas de uma competição não tem influência no volume capturado na próxima competição na área, independentemente do tempo decorrido entre competições. Relativamente à abundância de espécies, no seu todo e por espécie, não se verificaram variações significativas relativamente ao tempo decorrido da última competição da zona.
Verificou-se sim, que existe uma influência negativa directa na densidade de Labrus bergylta (conhecido pelo nome comum de bodião ou em Espanha como maragota e pinto), a espécie mais capturada na Pesca Submarina na Galiza, que reduz significativamente após uma competição com elevado volume de capturas, tendo-se verificado uma diminuição de cerca de 83% na prova com maior volume de capturas registada. Pensa-se que esta influência negativa deve-se ao facto de se tratar de uma espécie sedentária, mas o estudo sobre esta espécie demonstrou que a população recupera rapidamente, provavelmente de migrações provenientes de áreas próximas ou provenientes de águas mais profundas.
Percebeu-se também que o volume anual de captura de Labrus bergylta, segundo os registos para 2007, quase igualou os valores registados na pesca comercial (222 toneladas contra as 266 toneladas da pesca comercial). Também existiram algumas espécies em que os Pescadores Submarinos ultrapassaram o valor de capturas pesca comercial, como é o caso das saimas, lírios, moreias e peixe porco. De um modo geral, a Pesca Submarina (de lazer e de competição) representou cerca de 16% das capturas anuais das espécies comuns para a pesca comercial na Galiza.
Em média, segundo este estudo, as espécies alvo dos pescadores submarinos da Galiza não são muito vulneráveis à pressão da pesca (37 valores em 100) ao contrário de outros locais como por exemplo o Mediterrâneo (54 valores) e no Oceano Atlântico, nomeadamente nos Açores (59,9 valores). Das 29 espécies alvo dos pescadores submarinos da Galiza, das espécies com maior incidência de captura por parte dos pescadores, somente uma pode ser considerada moderadamente vulnerável, o Dicentrarchus labrax (conhecido pelo nome comum de robalo) com 42 valores.
Relativamente aos desvios possíveis na análise, os autores ressalvam que a relutância dos pescadores submarinos em disponibilizar informação sobre as suas capturas, as práticas reconhecidas de pesca ilegal, não regulada e não reportada realizadas pelos pescadores comerciais e submarinos, obrigaram o uso de estimativas e noutros casos, os dados registados podem diferir dos reais.
Também é abordado o tema do número total de licenças de pesca recreativa na Galiza, em que o número de licenças emitidas para a pesca embarcada e apeada é muito superior, cerca de 90%, relativamente às emitidas para a Pesca Submarina e por consequência, o número de capturas destas duas modalidades deverá ser maior, mas o impacto causado por este número carece de estudo, pelo que deveria ser considerado a sua realização.
Este artigo referencia, para análise comparativa dos dados, dois artigos, de entre os vários consultados, de 2013 de dois autores Portugueses sobre impactos da pesca recreativa, incluindo a Pesca Submarina, nas populações de peixes em ilhas do arquipélago dos Açores (1º artigo e 2º artigo).
Em suma, este artigo recomenda fortemente a inclusão desta modalidade de pesca nos modelos de gestão dos ecossistemas costeiros, pois possui volumes de captura por espécie similares, ou mesmo superiores em alguns casos, aos da pesca comercial. É também necessário um cuidado especial com espécies mais vulneráveis que são alvo tanto da pesca recreativa como da comercial, como é o caso do safio e do robalo, e é necessário a criação de medidas de protecção para espécies consideradas raras e de pouca abundância, como é o caso do pargo dourado (ou dentão como é conhecido), da corvina, entre outros.
Artigos deste tipo são valiosos para qualquer país, para que seja possível aferir os impactos reais, por zonas, causados pelas diversas modalidades de pesca (recreativas e comercias) nas populações de peixes e desta forma auxiliar o estabelecimento de deveres e regras, apoiadas em bases científicas, de forma a garantir a sustentabilidade das várias modalidades de forma equilibrada e justa para todos os seus praticantes.
Pode consultar o artigo completo aqui.