Nesta primeira edição da rubrica “A minha história”, o PortugalSub traz-vos hoje os momentos vividos pelo Pescador Submarino João Oliveira e Silva, contados na primeira pessoa, durante a captura dos seus primeiros robalos de bom porte na Pesca Submarina, primeiros de muitos que lhes seguiriam na sua longa carreira de Pescador Submarino que ao fim destes anos ainda se mantém, dando origem assim a esta “A minha história com João Oliveira e Silva”.
Se viveu grandes momentos, à semelhança do João Oliveira e Silva, e gostaria de partilhar essa história, não hesite e envie a mesma para aminhahistoria@portugalsub.pt, juntamente com as fotografias desse momento.
Os meus primeiros robalos à caça sub no “GREGO”
Agosto de 1977, andava eu na caça aos chocos relativamente perto da praia, quando um amigo, colega do meu pai e que muito me ensinou na pesca à cana, se aproximou de mim no seu pequeno bote, o “Sabiá”!…
Ele tinha saído para a pesca de manhã cedo, como o fazia na maior parte dos dias das suas férias na Praia do Vau (Portimão) e tendo estado a fazer uns lançamentos com amostras tentando os robalos de um pesqueiro já também meu conhecido, mas tendo eu apenas lá pescado à cana e sempre com esse amigo (ainda eu não tinha as marcas do spot memorizadas 😉 )… e apesar de ver os robalos através da transparência das águas, eles não ligavam às muitas amostras de vários tipos que experimentou!…
Por isso veio ter comigo, para me perguntar se eu queria ir tentar caçar mais por fora, que ele me levava no barco até ao tal pesqueiro, que é apenas uma pedra alta, não muito grande, mas com uma larga passagem a meio dela (um arco) e de que os robalos gostam muito de frequentar!… Claro que lhe disse logo que sim, e lá subi para o barco com a bóia e todo o material, e ele foi-me colocar mesmo por cima da tal pedra, que se chama “GREGO” por lá ter batido um navio Grego que depois afundou umas centenas de metros mais a oeste!…
Água super lusa, como nunca tinha visto por aqui no sul… mais de 20 metros de visibilidade, e ali com apenas 10 metros, viam-se as micas da areia a brilhar no fundo… Também vi logo, e ainda de cima do barco, o enorme cardume de robalos a circular à volta da pedra!… Equipei-me e saltei para a água, carreguei a arma (uma Marlin 90 da Beuchat e de punho metálico) e preparei o pato enquanto controlava o cardume… eram robalos todos dos 2 kg para cima, e com os maiores a ultrapassar pela certa os 6 kg…
Quando vi que o cardume iria passar de novo a desfilar por mim, mergulhei e fiz-me a eles… com a precipitação de quem não estava habituado a espectáculos daqueles, acabei por arpoar um dos mais pequenos… pesou depois apenas 2,400 kg!… 😛 O tiro foi bom e o robalo pouco estrebuchou, retirei-o logo do arpão e fui colocar no barco!… O meu amigo, espertalhão, disse que aquele seria para mim, e que o próximo é que seria para ele!… 😉 Parecia que adivinhava, pois na segunda caída arpoei um de 6,300 kg… Eheheh 😉
Depois o cardume desapareceu, ele sabia que mais tarde voltariam ali, mas também não convinha escamotear muito o spot, pois o forte dele é apanhá-los lá à cana!… Ainda me levou um pouco mais para fora, pois com aquelas águas vidro seria um bom incentivo para mim para mergulhar um pouco mais fundo do que estava habituado até à data!… Capturei mais uns 3 ou 4 grandes bodiões, o maior, uma maragota com mais de 3 kg e demos por finalizada a caçada… voltámos à praia!…
E o tal robalo grande que o meu amigo dizia ser para ele, acabou por ser, junto com o mais pequeno, o repasto dos meus anos no dia seguinte… deu para as nossas duas famílias se regalarem e degustarem uns belos robalos frescos do “GREGO”…
A partir desse dia, muitos foram os robalos que capturei ali naquela pedra… algumas vezes a ir até lá de barco, mas na maioria das vezes a ir à barbatana desde a praia, e muitas vezes sem sequer ir a caçar até lá, apenas fazia o trajecto até atingir as marcas que entretanto me ensinaram a tirar, e que durante muitos anos foram sempre muito certinhas, só mais recentemente falham por vezes, devido à muita construção que entretanto tapou a visão das melhores marcas antigas…
Quando chegava lá, ia para baixo, assentava no topo da pedra e esperava os robalos começarem a desfilar, escolhia um dos maiores e disparava!… Depois de o colocar no enfião da bóia, ainda tentava um segundo, que nem sempre aparecia, pois o cardume ia dar uma volta para regressar mais tarde… Era raro o cardume não pernoitar por lá, daí se fazerem muito boas pescarias à cana com amostras ao final do dia e até ser quase noite cerrada!…
Depois dessa segunda tentativa, regressava de novo à praia!… Sempre fiz por não massacrar muito o pesqueiro, e por essa razão também não ia lá todos os dias… dava quase sempre dois ou três dias de descanso, a não ser que tivesse alguma encomenda familiar de robalo!… 😉
Durante largos anos, foram muitas alegrias que tive naquela pedra, e não só à caça submarina, pois muitos também foram os robalos que lá tirei à cana!… Fui sempre gerindo da melhor forma aquele maná que aquele entretanto falecido amigo me legou!…
E aquele cardume era mesmo residente, pois eu nessa altura ainda vivia em Lisboa, mas vinha cá ao Algarve com alguma frequência e quando sabia que o mar estaria em condições… em qualquer altura do ano quase sempre encontrava os robalos por lá!…
Mais tarde é que outros pescadores e caçadores sub descobriram o spot e começaram a massacrar mais do que deviam… rapidamente as coisas se alteraram e com o conjugar das muitas areias (algumas lodosas) que colocaram através de tubagem nas praias e também mesmo junto à pedra, hoje praticamente não há vida no “GREGO”… 🙁
Já lá não vou há uns tempos, talvez uns 3 ou 4 anos, mas quero lá voltar a “espreitar” um dia destes… pode ser que calhe… Eheheh
Gostaria de dedicar esta história em memória ao meu amigo e mentor na pesca, Engº Rosário Nunes, e ao seu também recentemente falecido filho, Zé Filipe, meu companheiro de berço e de muitas aventuras e pescarias
A equipa do PortugalSub agradece ao João Oliveira e Silva por partilhar esta empolgante história, a convite do PortugalSub, com a comunidade de Pesca Submarina Nacional e não só. Esperemos que tenham gostado desta fantástica aventura subaquática e até ao próximo capítulo de “A minha história”.