Neste primeiro artigo da rubrica “Truques e Dicas”, o PortugalSub tem o prazer de publicar algumas das melhores técnicas, truques e dicas de como as aplicar e o material indicado para a captura de robalos na borda ou espuma, pelas palavras do campeão nacional de Pesca Submarina de 2012, vice-campeão mundial por equipas no XXIX Campeonato do Mundo de Pesca Submarina em 2014, actualmente 4º posto do ranking nacional e membro da equipa Portuguesa da CRESSI, João Peixeiro.
Resultante de anos de dedicação a esta modalidade, o PortugalSub transcreve o conjugar de muitas horas no mar a observar comportamentos que resultaram em muitas jornadas de pesca felizes para o João e que agora juntamente com o Portugalsub quer partilhar com toda a comunidade de Pesca Submarina, na esperança de que outros possam desfrutar de dias de pesca fantásticos com capturas de robalos que venham a fazer parte das histórias para contar. Assim, o João conta-nos que:
O Robalo
Os robalos como todos sabem são predadores e alimentam-se essencialmente de pequenos peixes, sendo as suas capturas mais comuns as cavalas, as bogas, os carapaus, as sardinhas e peixe-rei, mas também crustáceos, moluscos e até camarões.
Enquanto juvenis capturam essencialmente peixes de pequeno porte, camarões e crustáceos de casca mole mas desde muito novos mostram ser um predador muito voraz, pois é comum ver um robalo de pequeno porte com um peixe capturado que fica com rabo de fora!!
Quando o porte ultrapassa os 4kgs tornam-se num predador super implacável e capturam taínhas com mais de 1kg e salemas com mais de 500g. Para quem não tem noção, já apanhei um robalo com 4kgs que no bucho tinha uma salema com mais de 500g, um robalo com 8kgs com uma navalheira grande inteira no bucho, um de 9kgs que cuspiu uma taínha com 1200g, portanto resumindo quando lhes apetece comer “é o que estiver à frente”.
O comportamento dos robalos em relação à nossa presença vai alterando à medida que o porte aumenta, quando são juvenis são muito irrequietos e podem andar a poucos centímetros de nós e por ali ficarem até que regressemos à superfície (coisa que por vezes nem nos permite fazer qualquer tiro) e à medida que vão crescendo começam a ficar mais desconfiados e a medir a distancia para nós, ou pura e simplesmente “entram” e desaparecem num segundo. À medida que se aproximam do porte máximo da espécie ficam muito desconfiados quando se apercebem de nós e medem muito bem uma distancia de conforto de modo a tentar avaliar a situação. Nestes casos podemos tentar aproveitar a confiança que um peixe deste tamanho tem e tentar avançar um pouco para ele de modo não muito agressivo, ganhando aquele metro que falta para estar a tiro e aproveitar a oportunidade. Isto poderá dar muito rendimento a baixas profundidades, já a cotas mais consideráveis é mais complicado.
Os robalos de grande porte gostam de caçar em zonas muito baixinhas com menos de 1m de água entrando por caneiros de pedra ou areia fazendo emboscadas às suas presas e privilegiando baías abrigadas, fundos de pedra rolada ou cristas/linhas de onda.
Material
Neste tipo de pesca é essencial estar bem lastrado e que o LASTRO esteja distribuído por todo o corpo: colete de pesos, cinto de pesos e pesos nos tornozelos(é isto que uso). A baixa profundidade como temos pouca altura de água por cima a tendência será para que as pernas se elevem, dificultando a nossa evolução pelo fundo e alertando muito os peixes. Meias finas ajudam bastante a manter os membros inferiores junto do fundo.
As BARBATANAS podem depender muito do gosto, mas é essencial ter barbatana com propulsão para fugir/resistir a uma boa “volta de mar” sem ser arrastado para cima das pedras.
A MÁSCARA deve ter um campo de visão alargado e não necessita ser de baixo volume interno, mas quanto mais conseguirmos conjugar as duas melhor.
O TUBO deverá ser flexível para que faça menos atrito na passagem da força de mar e evitando assim que puxe demasiado pela máscara de modo a evitar que esta salte na “máquina de lavar”. Usar umas tiras feitas de câmara de ar de bicicleta para prender o tubo à correia da máscara é uma boa solução para evitar perdas.
O FATO deve não deve ser muito grosso, pois vai ser uma pesca com alguma cadência de mergulhos fazendo com que fiquemos mais quentes e porque quando mais grosso, mais peso temos de carregar e depois as costas é que sofrem.
A ARMA deve ter grande capacidade de manobra sempre entre 75 e 90cm, eu prefiro a 75 com duas voltas de fio em vez de carreto, pois ganho mais capacidade de manobra e as duas voltas permitem-me trabalhar um peixe de maior porte.
Um ARPÃO com massa é essencial pois quando o mar tem mais força facilmente pega/desvia o arpão, além de tem mais poder de perfuração.
Uma BARBELA com pelo menos 6cm, ponta levantada e travamento na posição de aberta garante que um peixe bem arpoado não vá embora. Um O-ring na barbela para mantê-la fechada elimina a possibilidade de falharmos tiros por a barbela estar levantada.
Os ELÁSTICOS têm de ter uma boa progressão e não serem demasiado fortes. Uso os Cressi S45 e recomendo.
Dicas
Quanto menos dermos à barbatana melhor, o ideal será fazer um pato perfeito e cair no fundo sem auxilio da propulsão da barbatana, fazendo logo ali uma espera, pois pode entrar logo um robalo, só depois então evoluir pelo fundo só com o auxilio da mão esquerda (sem arma no meu caso), tentando surpreender o peixe distraído a caçar ou até a digerir a presa.
É também importante andar com a arma recolhida de modo a não termos uma postura muito agressiva. É uma técnica complicada pois fazer um tiro rápido quando se tem a arma recolhida requer muita prática. Por vezes chego a fazer tiro com a arma mesmo recolhida.
Perceber que o peixe nos viu e de repente desaparecermos, por exemplo atrás de uma pedra e por lá ficarmos é algo que deixa qualquer peixe muito curioso e em especial os predadores. É bom ter isto bem presente durante este tipo de caça.
Evoluir pelo fundo sem bater em nada, sempre contornando as pedras maiores de modo a nos escondermos, vai certamente aumentar as oportunidades de tiro.
Que venha mar bom para podermos molhar o fato…
Por: João Peixeiro