Antes da partida da Equipa Nacional para o XXX Campeonato Mundial de Pesca Submarina, o PortugalSub falou com Pedro Domingues, atleta integrante da Selecção para Syros 2016, e ficou a saber mais sobre a preparação para prova máxima da modalidade, expectativas e motivação, as dificuldades que a equipa nacional irá encontrar em Syros e muito mais.
Pedro Domingues, atleta com uma vasta experiência em provas internacionais de Pesca Submarina em representação de Portugal, com a Equipa Nacional, conseguiu, em 2014 no Peru, o título de Vice-Campeão Mundial por equipas, onde foi titular.
O Mundial de Syros de Pesca Submarina, já na próxima semana, em comparação com o do Peru em 2014, segundo Pedro Domingues, são duas provas completamente distintas em todos os factores…
A constituição da equipa Nacional resulta, maioritariamente, do ranking Nacional e dos resultados do último Campeonato Nacional de Pesca Submarina. Independentemente dos critérios anteriores, existem imprevistos e impedimentos de variadas ordens que os atletas, como todas as pessoas, experimentam acabando por causar alterações na convocatória inicial da equipa à medida que a data do campeonato se aproxima. Existiu uma alteração à constituição inicial da equipa com a impossibilidade do atleta João Peixeiro fazer parte da mesma, tendo sido substituído pelo Paulo Silva, ficando a equipa com a seguinte constituição: Atletas titulares Jody Lot, André Domingues e Matthias Sandeck; Atleta de Reserva e ajudas Pedro Domingues, Miguel Santos e Paulo Silva (capitão), como o PortugalSub já aqui noticiou. Queria questionar o Pedro se esta constituição se mantém ou se entretanto já existiram mais alterações à equipa que vai competir em Syros?
A equipa que vai se deslocar já sofreu outra alteração, infelizmente também o Miguel Santos não se poderá deslocar a Syros. Assim sendo será o João Guerreiro o atleta que o substitui.
Qual é o “peso” que sente um atleta que vai representar Portugal numa competição internacional com esta importância?
O “peso” que um atleta sente, penso que depende de pessoa para pessoa e da forma com as pessoas encaram a competição que se irá disputar. Eu normalmente encaro sempre uma prova internacional com o máximo de optimismo e vontade de dar o meu melhor, seja para competir ou simplesmente ajudar.
O Pedro tem estado em contacto com os restantes membros da equipa, como tem sido a vossa preparação para as condições que vos vão ser apresentadas em Syros?
Inicialmente falou-se num plano de preparação a longo prazo tendo em vista as condições que em princípio vamos apanhar em Syros, até tivemos um primeiro contacto com o Raul Arenas, formador de apneia, mas infelizmente como em quase tudo na vida, sem fundos é complicado fazer-se algo.
O Pedro sente que a equipa se encontra motivada? Quais as vossas expectativas para este Mundial?
A meu ver a equipa não se encontra nada motivada, pela falta da oportunidade de lutar de igual para igual a nível de preparação/prospecção.
Quais são as maiores dificuldades que a equipa espera enfrentar em Syros durante a competição?
Penso que a escassez de peixe será a maior dificuldade e o peixe estar bastante fundo, pelo que se ouve. Digo isto, mas só quando lá chegarmos e nos metermos na água é que poderemos ter a certeza de quais serão as maiores dificuldades.
As águas do Mediterrâneo, naquela zona, têm a fama de serem algo desprovidas de vida a pouca água, encontrando-se esta em quotas bastante significativas. É este paradigma que estão a levar em conta na vossa preparação ou estão focados em desenhar uma estratégia diferente? Se sim qual é a estratégia e o porquê da mesma?
Tanto quanto sei nenhum dos titulares está a pensar em andar a cotas exageradas. Vamos tentar fazer o melhor possível no tempo que temos disponível.
Já existe data para a chegada a Syros e para o arranque da preparação e prospecção do local por parte da equipa Nacional?
Sim, chegamos a Syros dia 13 e iremos fazer apenas 2 dias de prospecção.
Os dias que vão ter disponíveis para a preparação e prospecção para a competição são, na opinião do Pedro, suficientes para manter, ou mesmo superar, o nível que a Selecção Nacional tem vindo a obter nestes últimos anos e surpreender as Selecções, conotadas como, favoritas ao pódio em Syros?
Estes 2 dias de pouco vão servir a meu ver, e só por “milagre” conseguiríamos manter o nível que se tem vindo a obter.
A Federação Espanhola, como tem vindo a ser hábito, projectou um Campeonato Nacional focado em seleccionar atletas especialistas em características semelhantes às que vão ser encontradas em Syros e colocou a sua equipa Nacional em Syros para a preparação e prospecção do local em finais de Agosto passado. Na opinião do Pedro, este procedimento é uma mais valia para os Espanhóis em competição? E a equipa Portuguesa poderia beneficiar com este tipo de procedimentos, porquê?
Sem sombra de dúvida que este procedimento dos Espanhóis será uma mais valia para eles, tanto que já o fazem à imenso tempo. Irão ter na água os melhores atletas para aquele tipo de condições. Tanto que a meu ver será a selecção que irá ganhar. Para a equipa Portuguesa esta seria sem sombra de dúvida uma mais valia. Porque fazendo um campeonato com as condições o mais parecidas com o que se irá ter no campeonato internacional desse ano, consegue-se obter o melhor do melhor, por assim dizer. Só que infelizmente em Portugal a visão não é esta.
Comparativamente a outros países, na opinião do Pedro, quais são as dificuldades encontradas pelos os atletas Nacionais para representar Portugal numa competição internacional?
A constante falta de fundos por parte da F.P.A.S. (Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas), consequência da falta de apoio condiga do IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude). De salientar que desde 2013 que os atletas da selecção têm pago muito para representar o nosso país. Em 2014 o titulo de vice-campeões do mundo deve-se em exclusivo ao esforço monetário dos atletas porque a Federação apenas pagou a viagem e inscrição no campeonato, TODA a prospecção, e quando falo toda a prospecção entenda-se por, alimentação, alojamento, aluguer de barcos, gasolinas, dos 20 dias que tivemos no Peru, foi pago pelos atletas. Em 2015 a situação repetiu-se, e este ano mais uma vez os atletas vão ter que pagar uma grande parte das despesas.
A comunidade de Pesca Submarina internacional, e mesmo parte da nacional, não coloca Portugal entre as Selecções favoritas para subir ao pódio em Syros, como o Pedro analisa esta posição?
Infelizmente, nem eu próprio nos coloco como entre as Selecções Favoritas para subir ao pódio, temendo inclusive um péssimo resultado, pela falta de tempo de prospecção que a meu ver naquele tipo de condições é preponderante para uma boa classificação.
Em 2014 Portugal foi Vice-Campeão do Mundo por equipas e o Pedro foi titular nessa competição. Como compararia o Pedro ambas as competições? Estamos em condições para repetir ou melhorar a proeza?
São as duas competições completamente opostas em tudo, condições de água, temperatura, visibilidade, peixe, tudo, tudo diferente! E teremos selecções que no Peru fizeram um excelente resultado e aqui irão repetir isso, e a meu ver essas é que serão as selecções de topo da actualidade, porque uma equipa não pode ser só boa no tipo de mar que lhes convém, quem é bom é em qualquer lado (mas lá está a parte financeira também influencia bastante aqui). Tal como disse anteriormente penso que iremos piorar a proeza.
As grandes competições desta modalidade em Portugal, normalmente, não são muito divulgadas fora da comunidade de Pesca Submarina e Apneia, resultando numa falta de apoio, a diversos níveis, à Selecção Nacional ao contrário do que acontece com outras modalidades. Segundo a opinião do Pedro, porque isso acontece e o que se poderia fazer para que mais Portugueses estivessem a apoiar e a acompanhar a equipa Nacional neste Campeonato do Mundo?
Nós em Portugal temos uma coisa muito má e isso reflecte-se numa multitude de situações, até no quotidiano, em vez de nos unirmos afastamos-nos, em vez de lutar baixamos os braços, e isso reflecte-se também na Pesca Submarina e Apneia, ora vejamos, antigamente existiam os fóruns, hoje é mais o facebook, e tanto num como noutro não vemos união, mas sim muita critica e “guerrinhas” tontas, por coisas tão mesquinhas, se em vez de estarem neste tipo de situações se unissem, associassem, fizessem algo em prol da modalidade e parássemos de olhar apenas para os nossos umbigos e começarmos a abrir novos horizontes, “amanhã” podemos ser uma comunidade desenvolvida, alargada e respeitada como temos no país vizinho. Penso que isto é a chave para sermos o que em tempos fomos enquanto actividade e ao haver este crescimento mental, irá também naturalmente surgir a divulgação e o apoio à Selecção e ás competições de pesca submarina a nível nacional.
Qual a mensagem que o Pedro, em seu nome e em nome da equipa, gostaria de deixar aos Portugueses, e não só, que vos apoiam e que vos vão acompanhar na competição, apesar da distância.
A todos os que nos apoiam o meu muito obrigado e espero que continuem e acreditem na nossa selecção porque qualquer atleta quando vai para a água dá tudo por tudo pela nossa bandeira (mesmo não sendo apoiados como deveríamos pelo nosso país tal como de outros desportos) e que mais e mais gente se una e junta à causa, que não é só um desporto mas um modo de estar na vida, que nos ensina muita coisa boa e nos trás bons convívios com amigos e família.
O meu obrigado ao Portugalsub, pelo excelente trabalho que tem feito na divulgação da pesca submarina,
Pedro Domingues.